quinta-feira, 30 de junho de 2011

Roubam sua comida, os matam e os rotulam piratas.

O excelente documentário abaixo, extraído do Blog Diário Gauche, joga por terra mais um mito criado pela grande mídia corporativa, correia de transmissão do pensamento caduco e da ideologia dos condutores de grandes corporações, e dos países capitalistas centrais: Os denominados "Piratas Somalis", uma reação popular ao saque indiscirminado praticado por potencias européias, que ao mesmo tempo, fazem desse país uma grande fossa para seus dejetos químicos, hospitalares, industriais e até mesmo nucleares.
O filme, em espanhol, mostra quem são os verdadeiros piratas, dos mares da Somália:

¡Piratas! from Juan Falque on Vimeo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Para entender o Brasil hoje. Uma leitura indispensável.

O poder dos donos

A demissão do ministro Palocci desvela os prodígios do transformismo dos donos do poder. Entre mortos, afogados e defenestrados, sobrevive impávida a estrutura do poder real, aquele contubérnio entre o dinheiro, a mídia e a política, cujas entranhas, costuradas no golpe de 1964, foram rasgadas no documentário Cidadão Boilensen.

Os poderes dos donos mandam e desmandam, reforçados agora pela presença dos yuppies cosmopolitas da finança globalizada. A grande inovação dos modos contemporâneos, além da internet, do celular e do iPad, é soft power. Nos subterrâneos onde são transacionadas as mercadorias entre o poder político e o poder econômico já não se ouve, felizmente, o grito dos torturados, mas os sussurros das mesas de operação das grandes empresas privadas. (financeiras e não financeiras).

As burocracias do Estado são convidadas a mediar a concorrência entre os grupos e instadas a escolher ad hoc as regras a serem aplicadas. Governo após governo mudam os rumos, mas sobrevivem os métodos. Há que admirar o requinte dos poderosos nos cuidados de patrocinar e preservar o sistema de relações perigosas entre o público e o privado.

A vulnerabilidade do Estado brasileiro não decorre de sua incompetência, como pretende a vulgata liberal, mas de sua importância na “administração” dos mercados. Não só no Brasil, mas em todas as partes são notórias as dificuldades de escapar à força dos interesses particularistas e de fixar políticas em nome do interesse geral. No livro The American Empire and the Political Economy of Global Finance, o cientista político Leo Panich rejeita a dicotomia Estado versus Mercado e aponta “as complexas interrelações entre as carreiras e os interesses públicos e privados como a essência das relações entre o Estado e o Mercado”.

O peso político das classes proprietárias na representação parlamentar e na máquina do Executivo promove sistematicamente a distribuição de favores entre os competidores. As relações viciadas entre Estado e os privados fomentam a busca de vantagens e privilégios. As agências públicas se envolvem no “jogo das regras”, sempre empenhadas em contemplar os velhos interesses e dar guarida aos novos setores que buscam o amparo das políticas “públicas”.

Os estudos internacionais sobre o tema mostram que o Estado transformou-se numa arena em que se digladiam os grandes interesses e corre grana à vontade para financiar candidatos favoráveis à consecução de objetivos dos grandes grupos privados.

Não por acaso os cidadãos de todas as partes estão sempre sobressaltados diante da iminência de serem abalroados por uma sucessão de paradoxos. Nos Estados Unidos, por exemplo, as inovações dos mercados financeiros não teriam avançado sem a prestimosa colaboração dos republicanos Reagan e Bushs I e II, mais o democrata Clinton. Com o auxílio deles, Wall Street voltou a dominar os plenários do Congresso e os escritórios do Executivo.

A independência moral e política se esvai nas eleições, cada vez mais caras. Por isso, ninguém foi capaz, até agora, de propor o óbvio: aprovar uma lei de financiamento público das campanhas eleitorais, condição mínima para que seja instaurado por aqui um regime parecido com a democracia. Há quem torça o nariz para a ideia do financiamento público exclusivo. Os adversários argumentam com a escassez de recursos diante de prioridades mais prioritárias. Escuto meus botões: o que poderia ser mais importante numa sociedade que se pretende democrática e republicana do que a qualidade da representação popular e a igualdade de condições na disputa eleitoral?

Mais do que isso: as normas do mercado passaram a ditar as regras da vida política. No Brasil de hoje, essa lógica fatal vem contaminando as instâncias decisivas do poder estatal. O sistema partidário e o financiamento das campanhas eleitorais parecem ter sido engendrados com o propósito de transformar o Congresso num mercado de balcão, no qual os gritos de “compro” e “vendo” tornam ridícula a hipocrisia dos discursos moralistas dos plenários.

O arbítrio, o favorecimento, o segredo, a obscuridade e o nepotismo eram os demônios que os valores da República restaurada em 1985 pretendiam exorcizar. Pois os curupiras da Pátria Amada estão aí, livres e folgazões, gargalhando sobre as nossas incríveis esperanças.

Ao contrário do que se divulga, os senhores não se tornaram menos ferozes. Aprenderam a usar métodos mais sutis e eficientes para torturar coletivamente os cidadãos com as técnicas da desinformação, do massacre ideológico e da “espetacularização” da política. É uma questão menor saber se a corrupção no governo A é maior do que a no governo B.

Artigo do economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo. Publicado na revista semanal CartaCapital nº 650, nas bancas nesta semana.

Extraído do Blog Diário Gauche, do Sociólogo Cristóvão Feil.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Europa virou sistema de partido único, diz filósofo húngaro

Do site da Folha de São Paulo:
A última crise financeira enterrou os resquícios de diferença entre social-democratas e conservadores na Europa e vale para o continente a frase que o escritor Gore Vidal cunhou para caracterizar os EUA: é um sistema de um só partido com duas alas direitistas.
A afirmação é do filósofo húngaro István Mészáros, professor emérito da Universidade de Sussex (Reino Unido), que chega ao Brasil nesta semana para lançar livros e fazer palestras em quatro capitais. "É irônico que na Grécia e na Espanha a tarefa de impor uma dureza cada vez maior aos trabalhadores tenha sido passada a governos ditos socialistas e assumida por eles. Se quisermos superar a paralisia imposta pelo 'sistema de partido único', é preciso mudar o processo de tomada de decisões políticas", disse ele em entrevista à Folha.
Considerado um dos principais teóricos marxistas vivos, Mészáros, 81, deixou a Hungria após a invasão soviética de 1956. Se notabilizou pelas críticas à gestão opressiva no antigo bloco socialista, contidas em seu livro "Para Além do Capital" (Boitempo). Para ele, a crise que se manifesta hoje nos países ricos é estrutural e não parte dos movimentos cíclicos tradicionais do capitalismo. Portanto, diz, não está no horizonte uma "longa onda ascendente" de recuperação econômica.
Mészáros participa neste mês no Brasil de eventos de lançamento de um livro de ensaios em sua homenagem ("István Mészáros e os Desafios do Tempo Histórico") e do segundo volume de sua obra "Estrutura Social e Formas de Consciência", ambos da editora Boitempo. As apresentações ocorrerão no dia 8 em São Paulo e em seguida em Salvador (dia 13), Fortaleza (dia 16) e Rio de Janeiro (dia 20).
Leia abaixo a íntegra da entrevista, feita por e-mail.
FOLHA - A resposta dos social-democratas à crise foi voltar às ideias de John Maynard Keynes sobre intervenção estatal, enquanto governos de esquerda na América Latina reforçaram o papel do Estado no desenvolvimento. Eles estão certos?
ISTVÁN MÉSZÁROS - Governos social-democratas sempre tentam voltar a Keynes para solucionar o que acreditam ser crises financeiras. Isso pode trazer alívio temporário, mas não uma solução real. Isso porque as chamadas crises financeiras são também sociais, com extensas ramificações, especialmente sob as atuais condições de desenvolvimento socioeconômico global.
Nas últimas décadas nós assistimos a uma significativa --e também perigosa-- virada em favor do domínio econômico-financeiro, como uma alternativa em última instância inalcançável ao desenvolvimento produtivo, muitas vezes com consequências incontroláveis ou até mesmo fraudulentas, mesmo quando sancionadas pelo Estado. Em muitos países o resultado foi e continua sendo a falência maciça, seguida de resgates feitos pelo Estado, que mergulha mais e mais no chamado "endividamento soberano".
Na Europa três países estão obviamente falidos --Grécia, Irlanda e Portugal--, enquanto vários outros, incluindo economias maiores como a Itália e o Reino Unido, não estão muito longe disso. É verdade que "Estados soberanos" podem intervir para se proteger, por meio do agravamento de seu próprio endividamento. Mas também há um limite para isso, e ir além pode gerar problemas ainda piores. A dura verdade é que agora nós ultrapassamos as mais otimistas recomendações keynesianas: em vários países o volume de dívida insustentável chegou aos trilhões de dólares.
FOLHA - Como o sr. interpreta o predomínio de governos de direita hoje na Europa, incluindo uma forma bem extremada na Hungria?
MÉSZÁROS - Esses problemas são em grande medida cíclicos, e no próximo ciclo os governos podem ir para a outra direção. Mas o aspecto mais importante dessa questão é o tipo de desenvolvimento político-institucional a que estamos assistindo nas últimas duas décadas ou mais. O escritor americano Gore Vidal o caracterizou bem quando disse que nos Estados Unidos temos "um sistema de partido único com duas alas direitistas". O mesmo é verdade na maioria dos países europeus. É suficiente lembrar que tanto na França quanto na Itália os antigos partidos comunistas se transformaram em forças políticas muito difíceis de distinguir de seus oponentes neoliberais.
Claro que na Hungria a mudança no Parlamento assumiu uma forma chocante [dois terços das cadeiras estão na mão do ultraconservador Fidesz]. No entanto, é necessário lembrar que o partido que o antecedeu por oito longos anos no governo [nominalmente social-democrata] esteve muito longe de ser um partido de esquerda, com sua devoção a impor aos trabalhadores as políticas neoliberais mais dolorosas, disseminando o ressentimento e a alienação.
Se quisermos superar a paralisia do "sistema de partido único com duas alas direitistas", é preciso mudar o processo de tomada de decisões políticas. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, temos supostamente governos "socialistas", mas nada que devamos comemorar. E na Inglaterra, na próxima eleição, devemos ver o retorno de outro governo "socialista". À luz da experiência passada, quem seria corajoso o suficiente para sustentar que um governo do "Novo Trabalhismo" representaria mais do que uma mudança cosmética?
FOLHA - O sr. está otimista com as últimas manifestações populares na Espanha e na Grécia?
MÉSZÁROS - A palavra otimista não cabe muito bem. Não penso nesses termos porque sei que muita coisa pode dar errado e, como resultado, muitas vezes os mais vulneráveis e fracos têm que arcar com o maior peso. No entanto, estou certamente esperançoso, e reconheço que é preciso encontrar esperança, do contrário seria apenas um "pensamento positivo" que se extinguiria numa ilusão derrotista.
De fato, há uma boa base para estar convencido de que nem a Grécia nem a Espanha podem se conformar com os requerimentos prescritos a elas pelo sistema bancário internacional. Também nesse aspecto há um limite. É de fato muito irônico que nesses dois países a tarefa de impor um arrocho cada vez maior aos trabalhadores tenha sido passada a um governo "socialista" e assumida por ele.
Inevitavelmente, essa circunstância carrega com ela um processo de aprendizado penoso e o necessário reexame das respostas institucionais tradicionais dadas à pergunta "o que fazer?". Seria ingênuo pensar que esse aprendizado pudesse trazer resultados rápidos. No entanto, a dimensão positiva de tudo isso é que grupos cada vez maiores de trabalhadores se veem diante do desafio inevitável de reavaliar tantos as formas de tomada de decisão com que se acostumaram no passado quanto as respostas a ela. Seria arrogante presumir que nada de significativo possa emergir desse processo.
FOLHA - Qual será sua principal mensagem aos universitários que o ouvirão no Brasil?
MÉSZÁROS - Em certo sentido é muito simples. Quero chamar sua atenção para a natureza da crise de nosso tempo e a necessidade de lidar com ela o mais rápido possível. Porque o que devemos encarar não é a crise cíclica tradicional do capitalismo, que vai e vem em intervalos regulares, mas algo radicalmente diferente. É a crise estrutural global do sistema do capital em sua integralidade, que não pode ser conceituada nos termos habituais da "longa onda descendente" (downturn) seguida da confortadora "longa onda ascendente" (upturn), dentro de um período de mais ou menos cinco décadas. Há muito tempo essa caracterização perdeu credibilidade e não há nenhum sinal da fictícia "longa onda ascendente".
A razão pela qual é importante reposicionar nossa atenção nessa direção é porque uma crise estrutural requer remédios estruturais radicais para sua solução. O que está em jogo é muito grande porque nossa crise estrutural está se tornando mais profunda, em vez de diminuir. A crise financeira global a que fomos submetidos nos últimos anos é um aspecto importante disso, mas só um aspecto. Não há lugar para a autocomplacência quando trilhões de dólares jogados fora mal puderam arranhar a superfície do problema real.
FOLHA - O sr. previu uma confrontação entre os EUA e a China. Também sugeriu que a China não pode ser classificada como um país capitalista. Ainda pensa assim?
MÉSZÁROS - Sim, nos dois casos, mesmo se desde que eu escrevi isso, há 12 anos, muitas coisas mudaram e devem continuar mudando. O principal ponto é a diferença dramática no nível de desenvolvimento econômico dos dois países, com sinais de conflitos de interesse significativos decorrentes desse fato surgindo em partes diferentes do planeta, incluindo a África e a América Latina.
Considerar a China simplesmente como um país capitalista é simplista demais. O fato é que alguns setores vitais da economia, especialmente na produção de energia e na extração de material estratégico, estão em grande medida sob o controle do setor estatal. Além disso, e isso é um fato de importância seminal, o setor bancário e o câmbio --questão muito debatida e ressentida pelos EUA-- estão sob controle estatal completo. Tente convencer as empresas capitalistas e o sistema bancário nos EUA a imitar isso.
Conflitos de interesse nessas linhas podem não apenas se intensificar como se tornar não administráveis, ao ponto da explosão. Mas claro que seria loucura pensar nisso em termos de fatalidade. No entanto, muitos problemas herdados do passado terão que ser confrontados no tempo certo para resolver as contradições subjacentes.
FOLHA - O sr. disse uma vez que "revoluções reverberam por séculos, até que suas causas profundas sejam resolvidas". O sr. vê alguma reverberação de revoluções passadas nas revoltas que ocorrem nos países árabes?
MÉSZÁROS - Sem dúvida podemos ouvir potentes reverberações, ao lado dos temas prementes às populações dos países em questão. É quase impensável que o chamado "Estado pós-colonial" de dominação e dependência da segunda metade do século 20 pudesse ser mantido permanentemente nesses países. E claro que estamos muito longe do fim desse processo doloroso.
Também não podemos nos esquecer que a grande maioria das pessoas nos países afetados tem o problema básico de se alimentar, problema que está se agravando com o aumento do preço dos alimentos em todo o mundo.
Além disso, quando o presidente Obama (ou os redatores de seus discursos) falam das virtudes da "democracia", eles falham em reconhecer que o governo criminalmente repressivo do presidente egípcio Hosni Mubarak, que deve ser julgado em agosto, esteve em total subserviência em relação aos EUA por três décadas. Isso sem mencionar a ausência total de qualquer referência crítica à Arábia Saudita, que é feudal, mas lucrativa militarmente.
As reverberações que ouvimos devem continuar e se tornar mais altas, porque têm uma base causal e uma realidade irreprimível.

"Carolismo" político...

...censura e repudia a liberdade de pensamento e expressão, quando divergem dos sermões de domingo.

A invasão do campo político por aglomerados religiosos, que tentam, e muitas vezes conseguem, dar aos seus dogmas, força de lei, estabelecem "peneiras morais" entre os representantes a serem eleitos (como foi visto no ano passado, quando a então presidenciável Dilma Roussef viu-se obrigada a ajoelhar-se em templos para evitar o rótulo de atéia), investem contra o Estado, todas as vezes em que um trecho de suas escrituras são contraditas, mesmo que beneficiem boa parte da população (leia-se células tronco, aborto, iniciativas anti-discriminatórias...), é uma clara ameaça ao Estado laico e democrático.
O carolismo político, agora, apodera-se do direito de expressão. Nem mesmo um religioso pode manifestar-se de forma a contradizer os "escritos sagrados", como no absurdo episódio, comentado por Idelber Avelar, no texto que extraí do Blog Contexto Livre, postado abaixo:

Câmara Municipal de Niterói quer tirar onda de Tribunal do Santo Ofício

O Brasil continua presenciando preocupantes sinais de uma escalada de fanatismo e fundamentalismo religiosos em níveis inéditos na sua história moderna. O mais recente, lamentável episódio, foi protagonizado pela Câmara Municipal de Niterói, que agora se arvora no direito de aprovar moções de repúdio a …. textos de opinião! O texto, sublinhe-se, não era de um brasileiro qualquer, mas de Frei Betto, religioso dominicano que já fez mais pelo Brasil que todos os vereadores de Niterói juntos. O texto em questão, publicado n’O Globo e intitulado “Os gays e a Bíblia,” está escrito no mais absoluto espírito do que poderíamos chamar cristianismo original: amor ao próximo, compaixão, carinho pelo outro, generosidade. Frei Betto lembra que no tempo de Jesus os discriminados eram os pagãos, os doentes, os açougueiros, e que com todos eles Jesus teve atitude inclusiva. Propõe que a Igreja não tem o direito de discriminar entre homossexuais e heterossexuais, já que todos seriam filhos de Deus. Argumenta que ninguém escolhe ser gay or hetero. E que qualquer união no amor merece reconhecimento legal. Simples, não?
Mas parece que isso é blasfêmia aos olhos do vereador João Gustavo (PMDB), que propôs ridícula moção de repúdio e arrastou consigo toda a Câmara de Vereadores de Niterói, com as honrosas exceções de Leonardo Giordano (PT) e Gezivaldo Ribeiro de Freitas (PSOL). A insigne casa, que representa maravilhosamente a diversidade de gêneros e etnias do Brasil, votou em peso pela aprovação da excrescência (17 x 2, segundo informa o Deputado Jean Wyllys no seu Twitter; talvez 16 x 2, posto que constam só 18 vereadores na página web da Câmara e a minuta da votação não está disponível por lá). A moção é uma pérola de ignorância: afirma que segundo a “Sagrada Escritura” e a “tradição” (qual tradição? só existe uma?), “atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados”. Castíssimos vereadores de Niterói: qualquer bom sexo, hetero ou homo, é desordenado! Que vossa “ordem” fique longe das nossas camas, porque pelo jeito vocês não sabem de nada.
Posto que a Câmara Municipal de Niterói decidiu que já não vivemos num estado laico, aguardo ansiosamente que aprovem, em breve, moções em apoio à escravidão (Levítico 25: 44-46), ao apedrejamento (Deuteronômio 22: 22-24), à punição dos filhos pelos pecados dos pais (Deuteronômio 5: 9), à pena de morte aos adivinhos de futuro (Levítico 20: 27), à pena de morte aos que amaldiçoem pai ou mãe (Êxodo 21: 15), à pena de morte a quem não escutar o sacerdote (Deuteronômio 17: 12) e, claro, à pena de morte para quem trabalhar no sábado (Êxodo 31; 12-14).
Distintos vereadores de Niterói (com as honrosas exceções de Leonardo Giordano e Gezivaldo Ribeiro): vocês agiram como bestas quadradas fanáticas, que só contribuem, com esse ridículo gesto, para construir um país mais intolerante e ignorante, um país pior para se viver.
O Partido dos Trabalhadores, se ainda quiser defender o seu legado democrático, deve chamar às falas os Srs. Vitor Junior e Waldeck Carneiro da Silva, que votaram a favor dessa imbecilidade. Talvez fosse o caso de apresentá-los às iniciativas anti-homofóbicas da Secretaria de Direitos Humanos do partido. Esses senhores não são dignos das Comunidades Eclesiais de Base que ajudaram a fundar o PT. O lema delas, assim como o da Comissão Pastoral da Terra, sempre foi o amor e a solidariedade aos oprimidos e discriminados – nunca a disseminação do ódio.
É, compatriotas. Já se foi o tempo em que eu podia tirar onda com meus amigos estadunidenses.
Idelber Avelar

sexta-feira, 3 de junho de 2011

ONU critica imposição de ensino religioso em escolas públicas

Além de desrespeito à laicidade do Estado brasileiro, relatora denuncia 'intolerância e racismo'
Centenas de escolas públicas em pelo menos 11 Estados do Brasil não seguem os preceitos do caráter laico do Estado e impõem o ensino religioso, alerta a Organização das Nações Unidas. Em relatório a ser apresentado na semana que vem ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, a situação do Brasil é criticada.
O documento foi preparado pela relatora da ONU para o direito à cultura, Farida Shaheed, que também alerta que intolerância religiosa e racismo "persistem" na sociedade brasileira. A relatora apela por uma posição mais forte por parte do governo para frear ataques realizados por "seguidores de religiões pentecostais" contra praticantes de religiões afro-brasileiras no País. Uma das maiores preocupações é o com o ensino religioso, assunto que pôs Vaticano e governo em descompasso diplomático.
Os Estados citados por Farida, que visitou o País no final do ano passado, são Alagoas, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A relatora diz ter recolhido pedidos para que o material usado em aulas de religião nas escolas públicas seja submetido a uma revisão por especialistas, como no caso de outros materiais de ensino. Além disso, "recursos de um Estado laico não devem ser usados para comprar livros religiosos para escolas", esclarece.
Para Farida, "deixar o conteúdo de cursos religiosos ser determinado pelo sistema de crença pessoal de professores ou administradores de escolas, usar o ensino religioso como proselitismo, ensino religioso compulsório e excluir religiões de origem africana do curriculum foram relatados como principais preocupações que impedem a implementação efetiva do que é previsto na Constituição".
Legislação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação diz que o ensino religioso deve ser oferecido em todas as escolas públicas de ensino fundamental, mas a matrícula é facultativa. A definição do conteúdo é feita pelos Estado e municípios, mas a legislação afirma que o conteúdo deve assegurar o respeito à diversidade cultural religiosa e proíbe qualquer forma de proselitismo.
"Em tese, deveria haver um professor capaz de representar todas as religiões. Mas, como sabemos, é impossível", explica Roseli Fischmann, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). "Além disso, a aula não é tratada efetivamente como facultativa. O arranjo é feito de tal forma que o aluno é obrigado a assistir."
Roseli explica que o modelo brasileiro é pouco usual nos países em que há total separação entre Estado e religião. "Até Portugal, que no regime de Salazar tornou obrigatório o ensino religioso, aboliu as aulas. Educação religiosa deve ser restrita aos colégios confessionais. Lá, o pai matricula consciente."
 
Extraído do Blog Contexto Livre.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Carta Aberta aos Petistas

Com a legitimidade de quem cumpriu dois mandatos de deputado federal; e de quem por duas vezes disputou a presidência, representando os segmentos mais combativos e identificados com o programa socialista, é que me considero na obrigação de me dirigir aos militantes e alguns dirigentes do Partido dos Trabalhadores.
Embora seja fundador do PSOL, não considero possível qualquer possibilidade de êxito de nossos movimentos táticos, conjugados com os objetivos estratégicos de transformação qualitativa da sociedade brasileira, sem a participação, e até parceria ativa, dos segmentos sociais que hoje se representam no PT.
Nesse contexto, diante do que se registrou nas eleições municipais e autônomas na Espanha, e dos caminhos que vem tomando o governo Dilma, acho que tenho condições de entrar no debate da militância petista.
É verdade que a direita brasileira nem se aproxima, organicamente, da competência da direita franquista espanhola. A de lá, gerada no combate militar e ideológico contra a república popular, criou raízes sólidas durante as décadas da ditadura de Franco. A de cá, tão perversa quanto a de lá, foi matreira o suficiente para se impor sem tantos traumas, a partir da doação das capitanias, passando pelo período de controle da família real portuguesa, e mantendo hegemonia patrimonialista durante quase todo o período da história republicana. Por isso, nunca teve preocupação com mobilização militante.
E o quadro não mudou, com a chegada ao poder de quem, previsivelmente, tinha por meta uma transformação qualitativa da estrutura social do País. Pelo contrário. Como o próprio ex-presidente Lula afirmou em uma de suas últimas conferências, nunca o grande capital, principalmente o financeiro, acumulou tanto lucro em tão pouco espaço de tempo, quanto durante seu período de governo.
Pois é justamente por aí que a porca pode torcer o rabo.
Se, nos mandatos de Lula, as concessões aos maganos foram neutralizadas por um brutal programa assistencialista de distribuição de rendas mínimas – o que fez passar ao PT boa parte da base eleitoral, antes controlada pela velha direita -, o de Dilma, da forma como vem sendo encaminhado, pode não ter os mesmos instrumentos de persuasão. Os anúncios de privatização em áreas estratégicas, cortes orçamentários que só abrem exceção para os incessantemente crescentes serviços da dívida pública, na esteira da manutenção da apavorante política de juros sobre títulos da dívida pública, são fatos incontestáveis de que nada se faz diferentemente do que faria um governo PSDB-PFL e seus derivados e PMDB (ou alguém ainda tem dúvida que a legenda comporia qualquer governo?).
É aí que vale uma pequena reflexão sobre a acachapante derrota do PSOE diante da direita franquista nas últimas eleições locais da Espanha, como necessidade de discussão sobre o nosso processo.
O que levou a banda de Zapatero a perder milhões de votos em relação ao último pleito, justamente num momento em que a juventude ocupava as ruas para protestar contra a política de austeridade e de corte de despesas públicas que levou o país a um recorde de desempregos? Sem nenhuma dúvida, “a economia, estúpido!”, para citar um culto e bem sucedido marqueteiro de campanhas presidenciais norte-americanas.
A economia levou o eleitorado, outrora simpático ao reformismo moderado do PSOE, a votar no original, desprezando o clone, na medida em que os socialdemocratas deixaram de ser até moderadamente reformistas, para se transformarem em agentes dos modelos neoliberais mais extremados. Desse modelo que levou os jovens às ruas. Nesse sentido, seus simpatizantes, ou se abstiveram (porque os índices de abstenção elevados se concentraram evidentemente nesses eleitores e não nos da direita mobilizada) , ou transferiram seus votos, da cópia para o original, como forma de punição.
Embarcar de forma incondicional na defesa das propostas de Dilma, elaboradas por Palocci, o enfant gaté do grande capital internacional e seus cúmplices locais, pode levar o PT, no Brasil, para o mesmo destino. A forma obstinada com que as lideranças partidárias correm a blindar o referido, diante dos fortes indícios dos últimos ilícitos concorre para a equiparação aos partidos sem identidade – cujo último produto é esse PSD , que não é de direita, não é de esquerda, nem é de centro. E que que os próceres petistas vêm prestigiando, sem parecer se dar conta que a legenda não é de nada, para ser de qualquer governo. Igualando todos na mesma simbologia.
Se o PT se embaraçar definitivamente no pragmatismo em que mergulhou após Lula chegar ao Planalto, por conta de conjuntural apoio popular – e não estrutural -, a direita reacionária brasileira não precisará de outro golpe militar para voltar ao poder.
Nós do PSOL não queremos isso. Temos diferenças e divergências com o PT em função de idéias que passou a defender. Mas não temos as diferenças de valores que nos separam da velha e autoritária direita patrimonialista. Apostamos que novos tempos podem trazer novas realidades, em que a esquerda combativa se reagrupe, sem abrir mão de suas identidades e concepções sobre os caminhos de uma nova sociedade. Mas acreditando que, na desconstrução do predatório regime capitalista, temos muitos passos e muitos combates a dar, em comum.
 
Milton Temer
 
Texto extraído do Blog Contexto Livre.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Charge do Kayser.

"Unhazinhas" para o Lobão.

Do Blog Pragmatismo Político:

Cantor Lobão exalta a ditadura militar e ataca Chico Buarque



Sorte a de Lobão que não lhe arrancaram uma única unha


Lobão pirou de vez. De crítico da indústria da música e do regime militar, no passado, ele hoje se converteu num direitista bravateiro. Até parece que faz as suas declarações bombásticas para atrair os holofotes. Mas agora ele exagerou.

Durante o Festival da Mantiqueira, ocorrido neste final de semana na cidade de São Francisco Xavier (SP), ele criticou o cantor João Gilberto – que “virou um ser sagrado e nós temos que destronar tudo o que é sagrado” –, atacou Chico Buarque e ainda afirmou que "a MPB é de uma mediocridade galopante”.

"Torturadores arrancaram umas unhazinhas"

Entre aplausos e vaias, o egocêntrico classificou a esquerda brasileira de “gente rancorosa e invejosa". No auge das suas baboseiras direitistas, Lobão afirmou que há “um excesso de vitimização na cultura brasileira... Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização para quem seqüestrou embaixadores e crucificam os torturadores que arrancaram umas unhazinhas".

Lamentável. O que não se faz por dinheiro e por alguns minutos de fama na mídia brasileira.

Leia abaixo a fala de Lobão:

"" A gente tinha que repensar a ditadura militar. Por que as pessoas acham... Essa Comissão da Verdade que tem agora. Por que que é isso? Que loucura que é isso? Aí tem que ter anistia pros caras de esquerda que sequestraram o embaixador, e pros caras que torturavam, arrancavam umas unhazinhas, não [risos]. Essa foi horrível [risos]. Mas é, é bem isso. Quem é que vai falar isso? Quem é que vai ter o colhão de achar que bunda de pinto não é escovinha? Porque não é. Não é. Então é o seguinte: a gente viveu uma guerra. As pessoas não estavam lutando por uma democracia, as pessoas estavam lutando por uma ditadura de proletariado. As pessoas queriam botar um Cuba no Brasil, ia ser uma merda pra gente. Enquanto os militares foram lá e defenderam nossa soberania. "" 
Em seguida Lobão afirma que Che Guevara foi um facínora que assassinou camponeses.

"Por que ele [Che] é mais humano que um torturador? Essa é uma pergunta que é capciosa, é corrosiva, mas é pertinente. Então os caras que sequestravam fulano, beltrano, então eles eram mais bonzinhos do que o cara que arrancava unha nos calabouços? Vamos fazer essa equação? Empate, cara. Pensa bem. Tem que ser um cara muito escroto pra poder falar sobre isso, mas é a pura verdade."
Nota do Blogueiro: O que o ostracismo faz com a cabeça de um midiático.
Abaixo, um exemplo de que o ex-quase-compositor Lobão "sabe do que fala", algumas "unhazinhas" arrancadas de uma conterrânea desse blogueiro:
“Sônia Maria Lopes de Moraes, minha filha, teve seu nome mudado após o seu casamento com Stuart Edgar Angel Jones, para Sônia Maria de Moraes Angel Jones. Ambos foram torturados e assassinados por agentes da repressão política, ele em 1971 e ela em 1973. Minha filha foi morta nas dependências do Exército Brasileiro, enquanto seu marido Stuart Edgar Angel Jones foi morto nas dependências da Aeronáutica do Brasil.Tenho conhecimento de que, nas dependências do DOI-CODI do I Exército, minha filha foi torturada durante 48 horas, culminando estas torturas com a introdução de um cassetete da Polícia do Exército em seus órgãos genitais, que provocou hemorragia interna.


Após estas torturas, minha filha foi conduzida para as dependências do DOI-CODI do II Exército, local em que novas torturas lhe foram aplicadas, inclusive com arrancamento de seus seios. Seu corpo ficou mutilado de tal forma, a ponto de um general em São Paulo ter ficado tão revoltado, tendo arrancado suas insígnias e as atirado sobre a mesa do Comandante do II Exército, tendo sido punido por esse ato. Procedi a várias investigações em São Paulo, visando a aferição desses fatos, inclusive tentando manter contato, porém sem êxito, com esse General, tendo tido notícia de que o mesmo sofrera derrame cerebral, estava passando mal e de que sua família se opunha a qualquer contato e a qualquer referência aos fatos relativos a Sônia Maria.
O restante do depoimento pode ser lido aqui.

Marcha pela família?


Um movimento com tal nome, acrescido por alguns apelativos religiosos, foi o prenúncio do fim da nascente democracia no país, com o golpe civil-militar de 1964.

Representantes de setores que se reuniram em 64, contra as reformas de base, reuniram-se hoje em Brasília, atentando contra o estado laico (deixam de professar sua religião no espaço privado e querem que seus dogmas tenham força de lei), em nome do sectarismo, da discriminação e da marginalização de significativa parte da sociedade, os homossexuais.

Liderados por um dos "destroços-vivos" da última ditadura, o Deputado-bufão-racista Jair Bolsonaro, por membros da auto-denominada bancada cristã do congresso, e por figurinhas conhecidas do submundo fundamentalista religioso como Silas Malafaia e saudosistas da inquisição, os manifestantes sugeriam a retirada do PLC 122, que criminaliza a discriminacão aos homossexuais, da pauta do congresso.

O texto abaixo foi extraído do site G1. Notem a sutileza das manifestações dos "defensores da moral" e o seu conteúdo altamente discriminatório, inadmissível em uma sociedade livre, plural e democrática, como a nossa, ainda aspira a ser:


"Lei não pode criar 'terceiro sexo', diz Magno Malta em marcha em Brasília

Parlamentares participaram de evento contra projeto que criminaliza homofobia.
Manifestantes favoráveis ao PLC 122 fizeram 'contra-marcha' na Esplanada.
O senador Magno Malta (PR-ES) disse nesta quarta-feira (1), durante manifestação em frente ao Congresso Nacional contra a aprovação do projeto de Lei da Câmara (PLC) 122, que criminaliza a homofobia, que o Senado não tem poder para criar “um terceiro sexo” por meio de legislação.
Marcha pela Família, realizada nesta quarta-feira (1) em frente ao Congresso nacional contra a aprovação de projeto que criminaliza a homofobia (Foto: Dorivan Marinho/AE)

"Se Deus criou macho e fêmea, não vai ser o Senado que vai criar um terceiro sexo com uma lei" disse. "É preciso que eles [homossexuais] entendam que o anseio grotesco de uma minoria não vai se fazer engolir", afirmou.
O evento, batizado de Marcha pela Família, foi organizado pelo pastor Silas Malafaia e reuniu diversos parlamentares contrários ao projeto de lei em cima de carros de som – entre eles os deputados federais João Campos (PSDB-GO), Ronaldo Fonseca (PR-DF), Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Anthony Garotinho (PR-RJ), e os senadores Marcelo Crivella (PR-RJ) e Walter Pinheiro (PT-BA). A PM estimou em até 20 mil pessoas os presentes na Marcha pela Família.
Garotinho se manifestou contra a aprovação do projeto. “Eles [os participantes da marcha] amam a todas as pessoas, só que não concordam com o pecado de algumas”, disse.
Em oposição ao evento,um grupo de integrantes de movimentos ligados a causas homossexuais fez uma espécie de contra-marcha à Marcha Pela Família. Eles se reuniram em frente à Catedral de Brasília às 15h e seguiram até o Congresso, no mesmo local onde ocorria a Marcha pela Família.
A polícia formou um cordão de isolamento para evitar conflitos entre os dois grupos. Um contingente de 110 policiais foi deslocado para o local para acompanhar o evento.
Ainda assim, os dois grupoos se hostilizaram. Os defensores do projeto de lei chamaram os integrantes da Marcha pela Família de "nazistas" e "fascistas". O deputado Jair Bolsaro rebateu as acusações. "Eles são ridículos. Até o que eles falam é ridículo", afirmou.
Os manifestantes que defendem o PLC 122 carregavam faixas e entoavam palavras de ordem em favor de uma "família plural". Muitos se vestiram de roxo. A manifestação foi organizada pela internet, mas muitos chegaram ao local sem saber que havia um evento organizado.
"Eu viria de qualquer jeito, independentemente de ter um evento organizado ou não", disse Cristiano Ferreira, 35, servidor público. Ele vive há 3 anos com um companheiro e defende o projeto de lei. "O Estado é público e laico, e por isso não pode privilegiar o pensamento de uma religião para defender uma legislação", afirmou."