quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

No país do novelão...


A política é o que menos interessa.
Na tentativa desesperada de desestabilizar o governo federal, transformar o PT no criador da corrupção no país e enlamear a história de políticos ligados ao partido, antecipando o confronto eleitoral de 2014, a mídia corporativa brasileira já tentou de tudo: Encontraram um deputado, presidente de um partido que se envolvera até o pescoço num esquema de propina dentro dos Correios, criaram um termo novo (mensalão), jogaram luzes em cima e chamaram de o maior escândalo de corrupção de todos os tempos (o ladrão torna-se herói, os denunciados, sem provas concretas, presidiários), criaram textos extraídos de grampos religiosos (só ficam na crença dos que engolem o dogma midiático, nunca são mostrados. É uma questão de fé), creditam desastres aéreos ao então presidente, em véspera de eleição, dentre tantas obras, dignas de causar vergonha a um Charles Foster Kane, mas não ruboriza os Kanes do imprensalão.
Agora apelam para o caráter novelesco do interesse nacional: Fulano tinha uma amante? Um filho fora do casamento? Viajava pelo mundo com ela? Descobriu que o filho não era dele? Anda de Jet Sky? 
A política, vai pro saco. Não interessa. Porque eu vou querer saber quem está indo contra a redução das tarifas de energia, propostas pelo governo federal? Porque vou querer saber no que me afeta a partilha dos Royalties do pré-sal? Aliás, porque me interessar pelo que pode estar sendo oculto por essa discussão, se posso acompanhar, novelescamente a vida pessoal de presidentes, ex-presidentes, senadores, deputados, entes públicos em geral, como se fossem personagens das novelas globais?
Se Lula, tinha uma amante, se FHC teve ou não filho fora do casamento, isso deveria ser restrito à esfera privada, questões para si e suas famílias. O que deveria importar, seus projetos para o país, o que planejam, quem os apoia, como podem interferir em sua vida, pode ser um pouquinho mais interessante. Infelizmente,  muito poucos olham para onde deve.
Pode ser um dos motivos pelos quais não conseguimos sair das armadilhas do capital, mantidas e sustentadas pelo imprensalão. Sempre subservientes, sempre contentes, sempre esperando o próximo capítulo...

O texto abaixo fora extraído do site da Carta Capital, escrito pelo jornalista Leandro Fortes:

A moral de velhas prostitutas

Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula
Como a versão das conversas grampeadas entre ela e Lula foi desmentida pelo Ministério Público Federal, e é pouco provável que o submundo midiático volte a apelar para grampos sem áudio, restou essa nova sanha: acabar com o casamento de Lula e Marisa.
Já que a torcida pelo câncer não vingou e a tentativa de incluí-lo no processo do “mensalão” está, por ora, restrita a umas poucas colunas diárias do golpismo nacional, o jeito foi apelar para a vida privada.
Lula pode continuar sendo popular, pode continuar como referência internacional de grande estadista que foi, pode até eleger o prefeito de São Paulo e se anunciar possível candidato ao governo paulista, para desespero das senhoras de Santana. Mas não pode ser feliz. Como não é possível vencê-lo nas urnas, urge, ao menos, atingi-lo na vida pessoal.
Isso vem da mesma mídia que, por oito anos, escondeu uma notícia, essa sim, relevante, sobre uma amante de um presidente da República.
Por dois mandatos, Fernando Henrique Cardoso foi refém da Rede Globo, uma empresa beneficiária de uma concessão pública que exilou uma repórter, Míriam Dutra, alegadamente grávida do presidente. Miriam foi ter o filho na Europa e, enquanto FHC foi presidente, virou uma espécie de prisioneira da torre do castelo, a maior parte do tempo na Espanha.
Não há um único tucano que não saiba a dimensão da dor que essa velhacaria causou no coração de Ruth Cardoso, a discreta e brilhante primeira-dama que o Brasil aprendeu desde muito cedo a admirar e respeitar. Dona Ruth morreu com essa mágoa, antes de saber que o incauto marido, além de tudo, havia sido vítima do famoso “golpe da barriga”. O filho, a quem ele reconheceu quando o garoto fez 18 anos, não é dele, segundo exame de DNA exigido pelos filhos de Ruth Cardoso. Uma tragicomédia varrida para debaixo do tapete, portanto.
O assunto, salvo uma reportagem da revista Caros Amigos, jamais foi sequer aventado por essa mesma mídia que, agora, destila fel sobre a “namorada” de Lula. Assim, sem nenhum respeito ao constrangimento que isso deve estar causando ao ex-presidente, a Dona Marisa e aos filhos do casal. Liberados pela falta de caráter, bom senso e humanidade, a baixa assessoria de tucanos, entre os quais alguns jornalistas, tem usado as redes sociais para fazer piadas sobre o tema, palhaços da tristeza absorvidos pela vilania de quem lhes confere o soldo.
Esse tipo de abordagem, hipócrita sob qualquer prisma, era o fruto que faltava ser parido desse ventre recheado de ódio e ressentimento transformado em doutrina pela fracassada oposição política e por jornalistas que, sob a justificativa da sobrevivência e do emprego, se prestam ao emporcalhamento do jornalismo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Assassino ainda livre e armado.


Arquivo do blog.
Para quem não recorda do ocorrido: http://naoestaavenda.blogspot.com.br/2009/08/mal-subito-causado-por-disparo-de.html
Três anos após o assassinato do trabalhador rural Elton Brum, durante ocupação do complexo Southal, em São Gabriel, o assassino confesso (ou bode expiatório de oficiais da BM, de acordo com o ex-ouvidor da Secretaria de Segurança, Adão Paiani), continua livre e portando armas de fogo.
O trabalhador estava desarmado, de costas e fora executado com disparos de arma de calibre 12, disparadas por policial militar durante a ação. A corporação chegou a divulgar nota afirmando que o trabalhador teria morrido em decorrência de uma mal súbito.

O texto abaixo fora extraído do jornal Correio do Povo:

Soldado que assassinou sem-terra mantém porte de arma e permanece na BM



Alexandre Curto exerce funções administrativas na corporação em Bagé

O soldado Alexandre Curto dos Santos, que confessou ter atirado no sem-terra Elton Brum da Silva, de 44 anos, em agosto de 2009, em São Gabriel, mantém o porte de arma e segue trabalhando na Brigada Militar, ainda que no setor administrativo. Durante uma tentativa violenta e desastrada de desocupação da propriedade rural Posto Bragança, o agricultor, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), foi assassinado pelas costas, com tiros de espingarda calibre 12. A arma é geralmente utilizada pela corporação em ocupações do movimento. 


Alexandre Curto assumiu a autoria, mas alegou pensar que a munição era de borracha. Na Brigada Militar de Bagé, Curto, que é professor de Educação Física, mantém atividades na parte administrativa. “Sou professor de Educação Física, dou aula”, disse. 


A conversa, na tarde desta quarta-feira foi por telefone, e breve. Mas Alexandre Curto revelou à reportagem que segue com porte de arma, mesmo depois de, em serviço, há três anos, ter assassinado o agricultor. “Normal, não tem restrição nenhuma. Para o serviço é a arma de porte, revólver ou pistola”, explicou. Hoje, carrega consigo uma pistola. A reportagem já solicitou entrevista com o Comando da Brigada Militar.


Consultado, o advogado do MST Emiliano Maldonado lamentou que o julgamento do assassinato de Elton esteja arrastado há mais de três anos entre a produção do inquérito, a denúncia do Ministério Público e o processo judicial. “Cometem (policiais) um delito, homicídio, mas também casos de abuso de autoridade, tortura... e a tendência é ficar no esquecimento. Nós temos uma cultura autoritária política que se mantém desde a época da ditadura”.


Em 2010, o Ministério Público de São Gabriel denunciou o brigadiano por homicídio qualificado. Conforme o MP, a vítima foi alvejada pelas costas, completamente desarmada e alheia ao confronto protagonizado pela Brigada Militar e do MST no momento do disparo. Na Justiça, o processo está na fase de depoimento de testemunhas. Ainda não há sentença de pronúncia para que se defina se o caso vai ou não a júri popular.