quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A invenção do 'gaúcho' e a maldição conservadora no RS


Do blog Diário Gauche, do sociólogo Cristóvão Feil:


Antes de entrar no tema que quero comentar, chamo a atenção para o “Desfile Cívico-Militar do Vinte de Setembro” (conforme consta da programação dos seus organizadores, os dirigentes do MTG – Movimento Tradicionalista Gaúcho) que está se desenrolando hoje, precisamente 20 de setembro de 2012. 

Quero sublinhar a ênfase na expressão “cívico-militar” dado pelo MTG, em pleno século 21. Me explico. Ninguém desconhece a filiação positivista-comtiana dos republicanos brasileiros, na segunda metade do século 19. No Rio Grande do Sul, onde a República aconteceu depois de uma revolução cruenta que durou de 1893 a 1895, os positivistas foram mais radicais e, por isso, mais exitosos do que no resto do Brasil. Julio de Castilhos e os militantes do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) modificaram completamente o cenário político e social do estado mais meridional do País. No RS não houve a chamada troca de placa: sai a Monarquia dos Bragança, entra a República constitucional. Aqui, houve a mais completa e absoluta troca da elite no poder. Saem os velhos estancieiros pecuaristas da Campanha, entra uma composição de classes formada por uma pequena burguesia urbana, uma classe média rural, profissionais liberais e colonos de origem europeia da região serrana.

Os positivistas sulinos, fiéis aos ensinamentos dogmáticos de Auguste Comte, propugnavam – como o mestre – pela superação das fases pregressas da Humanidade. À fase militar-feudal deve seguir-se a fase industrial da Humanidade. Ou seja, à fase militar corresponderia a insurreição farroupilha de 1835-45 contra o Império do Brasil, agora – com o advento republicano – estávamos, pois, na hora de criar condições para o desenvolvimento e o progresso material que se daria por um processo intensivo de industrialização manufatureira. 
    
Vejam, pois, que os tradicionalistas do século 21 continuam com os olhos fixos num passado praticamente feudal, marcadamente militarista, embora não tenhamos experimentado, de forma hegemônica e total, esse modo de produção pré-capitalista no Brasil.  

Um dos formuladores intelectuais do que chamamos de ordem delirante do atraso – o pensamento tradicionalista da estância – foi Ramiro Frota Barcellos. Na obra “Rio Grande, tradição e cultura” (1915), o santiaguense é de uma clareza solar quanto aos propósitos enfermiços do tradicionalismo estancieiro: “O que agora se verifica, mercê do atual movimento tradicionalista, é a transposição simbólica dos remanescentes dos ‘grupos locais’, com suas estâncias e seus galpões para o coração das cidades. Transposição simbólica, mas que fará sobreviver, na mais singular aculturação de todos os tempos, o Rio Grande latifundiário e pecuarista”.

Qualquer semelhança com o enclave da bombacha e da fumaça que anualmente acampa, no mês de Setembro, no Parque da Harmonia, em plena área central de Porto Alegre, não é mera coincidência. A “mais singular aculturação de todos os tempos”, como premonitoriamente afirma Barcellos. Neste caso, “aculturação” é sinônimo de regressismo e estagnação.

É sobre isso que eu quero comentar brevemente.

Quando estudantes em São Paulo, Júlio de Castilhos e Assis Brasil chegaram a fundar um chamado “Clube 20 de Setembro”, que promoveu estudos – com algumas publicações - sobre o movimento farroupilha da primeira metade do século 19. Curiosamente, Castilhos abandonou as pesquisas sobre a guerra civil que varreu o Rio Grande por dez longos anos. Assis, em 1882, publicou a obra “História da República Rio-Grandense”. Por algum motivo, carente de melhores investigações, tanto os positivistas do PRR, quanto os liberais sulinos não foram muito enfáticos no culto farrapo. Tal fenômeno veio a ocorrer somente depois da Segunda Guerra, em Porto Alegre, no meio estudantil secundarista urbano do Colégio Estadual Julio de Castilhos. Daí se difundiu como rastilho de pólvora sob a forma dos onipresentes Centro de Tradição Gaúcho – CTG, que são clubes de convivência social onde se cultua o passado sob a forma fixa da mitologia farrapa, tendo como matriz formal a estética e o ethos do latifúndio da pecuária extensiva de exportação – subordinado à cadeia mercantil dos interesses hegemônicos ingleses na América do Sul. Quando os tradicionalistas se ufanam do pretensioso espírito autônomo e emancipado do chamado 'gaúcho' tout court, se referem ao Império dos Bragança, mas esquecem a dependência econômica e subordinação negocial estrita com os interesses ingleses, via portos de escoamento no Prata (Montevideo e Buenos Aires). 

[Das relevantes realizações modernizantes do castilhismo-borgismo foram a estatização e incremento do porto de Rio Grande, bem como a encampação das ferrovias controladas por capitais europeus, de forma a dotar o estado de infraestrutura e fomentar o desenvolvimento, sem depender do Rio ou do Prata.]   

A grande data a comemorar no Rio Grande do Sul, pelo lado do senso comum, é o 20 de Setembro, que marca o início da insurreição farroupilha (é um equívoco chamá-la de “revolução”, uma vez que os rebeldes foram derrotados pelo Império e não ocorreu nenhuma modificação política, social ou econômica na província sulina depois de 1º de março de 1845, na chamada Paz de Ponche Verde). No entanto, se houve revolução no sentido rigoroso e clássico do termo, esta ocorreu a partir da promulgação da Constituição Rio-Grandense, e da posse do governador (então, presidente do Estado) Julio de Castilhos, no dia 14 de julho de 1891. Meses depois, os conservadores e latifundiários alijados do poder, eternos aliados e sustentáculos da Monarquia, deram início à luta armada contra os jovens que governavam o Rio Grande (Castilhos tinha 30 anos quando assume a presidência do estado). A partir da revolução cruenta, se inicia um processo de grandes modificações e modernizações no RS. Em 1902, já com Borges de Medeiros no poder, depois da morte precoce de Castilhos, o estado passou a tributar com impostos progressivos as terras privadas, bem como reaver dos estancieiros as imensas glebas públicas apropriadas ilegalmente durante todo o século 19.
    
A hegemonia política do castilhismo-borgismo perdura até a década de 1930. Getúlio Vargas foi presidente do estado de 1928 a 1930, quando sai para o Catete, e já deixa um governo mais conciliador com os conservadores da Campanha.


Os modernizadores esqueceram a superestrutura, e os conservadores ocupam o espaço  


É intrigante, pois, que a apropriação do imaginário social tenha se dado pelo lado dos conservadores, através do simbolismo inventado do 20 de Setembro, e não pelas forças burguesas, progressistas e renovadoras do Rio Grande do Sul, que seria pelo 14 de Julho.
                  
Eric Hobsbawn e Terence Ranger que estudaram o fenômeno da chamada “invenção das tradições” suspeitam que quando ocorrem mudanças sociais muito bruscas e profundas, produzindo novos padrões com os quais essas tradições são incompatíveis, inventam-se novas tradições e novos imaginários de identidade social e cultural. Para os dois autores britânicos, a teoria da modernização pode sim conceber que as mudanças operadas pela infraestrutura da sociedade demandem tradições inventadas no plano da superestrutura.

Neste sentido, a revolução burguesa positivista-castilhista de inspiração saint-simoniana, introdutora do Estado-Providência, mobilizou somente as instâncias da infraestrutura (base material e econômica), deixando uma vasta lacuna, um boqueirão ideológico, diríamos, na esfera da superestrutura. 

Assim, teria restado um formidável vácuo em distintos setores da vida social e no espírito dos indivíduos, como nas artes, no pensamento político, no Direito, na identidade, nas subjetividades individuais e de grupos, na cultura e no imaginário como um todo. O homem é, antes de tudo, um animal simbólico, e este domínio da razão e da cultura foi deixado vago, motivado, talvez, pelas duras urgências da vida real, mas também – suspeito eu – pelo próprio autoritarismo do poder estendido do castilhismo-borgismo.

O tradicionalismo seria, assim, um desagravo mítico-ideológico dos derrotados de 1893/95, os mesmos derrotados de Ponche Verde. Uma vingança de classe – a do latifúndio subalterno e associado – contra a modernização burguesa do positivismo pampeiro, seria isso? Uma maldição contra o futuro do Rio Grande? “Vocês estarão condenados a viver no passado, em meio à fumaça e o cheiro de esterco, festejando derrotas, e considerando heróico, cavalgando durezas e incomodidades, e considerando genuíno, fruindo uma arte primária e mambembe, e considerando autêntico, cultuando velhos ressentimentos e considerando lúcido, ignorando o rico mosaico cultural da província e considerando o tradicionalismo de matriz latifundiária como a síntese de tudo. Vocês são os gaúchos, velhos vagabundos redimidos, são os heróis de um passado que nunca existiu” – foi a sentença de fogo dos que trouxeram o tradicionalismo como vanguarda do atraso no pensamento guasca

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

...não vim trazer paz, mas espada...

30 anos do massacre de Sabra e Chalita.



Há exatos 30 anos encerrava-se um dos maiores massacres de civis palestinos, fora de seu território, praticados por facções religiosas e sob o "olho amigo" de Israel e dos Estados Unidos de Ronald Reagan. 
Em 16 de setembro de 1982, milícias cristãs invadiram os campos de Sabra e Chalita, nos subúrbios de Beirute, no Líbano, onde por mais de 36 horas torturaram, estupraram, mataram, decapitaram, destroçaram e incendiaram os corpos de cerca de 1500 a 3000 palestinos, entre homens, mulheres e crianças de todas as idades. 
O número não é preciso, pois muitos corpos foram mutilados, jogados em valas comuns e muitos empilhados e queimados.
Os cristãos libaneses levaram ao pé da letra as palavras atribuídas por Mateus à figura de Cristo, no livro sagrado desses, no capítulo 10, versículo 34: "Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada;"

O texto abaixo foi extraído do site do Estadão, e fora escrito por Gustavo Chacra 



O massacre de Sabra e Chatila e o filme israelense Waltz with Bashir

Antes de postar, amanhã, um texto sobre o filme israelense “Waltz with Bashir”, publico hoje reportagem que escrevi, em setembro 2007, sobre os 25 anos do massacre de Sabra e Chatila. Acho importante para que todos possam entender os comentários que farei do filme, que tem como pano de fundo o episódio
Os libaneses adoram dizer que fazem festa mesmo durante as guerras. Nos 15 anos do conflito civil (1975-90), as pessoas tomavam sol nas praias, formavam-se nas universidades, viajavam a negócios, freqüentavam cinemas e jantavam em restaurantes que eram inaugurados ao som de bombas. Alguns episódios da guerra libanesa, porém, chocaram o mundo, que passou a prestar mais atenção neste minúsculo país mediterrâneo. O maior deles foi, sem dúvida, o massacre de Sabra e Chatila, que completa hoje 25 anos.
Nos dias 16 e 17 de setembro de 1982, milícias cristãs entraram nos campos palestinos no subúrbio de Beirute matando entre 700 e 3 mil moradores – há divergência entre o número de mortos, pois muitos corpos foram jogados em valas comuns e outros queimados. A maioria dos mortos era de palestinos, mas também havia muitos muçulmanos libaneses.
Os cristãos queriam vingar-se da morte do presidente Bashir Gemayel – aliado de Israel e morto um dia antes num atentado atribuído, na época, aos palestinos – e não tiveram piedade de quem vivia em Sabra e Chatila. Mataram mulheres grávidas, idosos e crianças. Grande parte das vítimas foi assassinada a facadas.
MATANÇA
Algumas pessoas foram cortadas em pedaços. Homens chegaram a ser decapitados. Mulheres eram estupradas na frente dos maridos. Tudo isso em campos que estavam sob o controle do Exército de Israel, que – comandado pelo então ministro da Defesa Ariel Sharon – ocupava pela primeira e única vez em sua história a capital de um país árabe.
Os militares israelenses observavam os cristãos libaneses massacrando os palestinos, mas nada fizeram para impedi-los. Os portões foram ‘abertos’ para as milícias cristãs. Os militantes da Organização de Libertação da Palestina, que faziam a segurança do campo, haviam deixado Beirute semanas antes.
ÁREAS ESQUECIDAS
Hoje, os campos não ficam à mostra dos turistas que vêm visitar Beirute. Mesmo os moradores não sabem dizer onde começa Sabra e onde termina Chatila. São duas áreas miseráveis e esquecidas atrás de um estádio de futebol na beira da estrada que liga o aeroporto ao centro de Beirute.
Diferentes de outros campos palestinos, Sabra e Chatila não são controlados pelo partido Fatah ou pelo grupo radical Hamas. Há membros dos grupos rivais lá dentro, mas para entrar não é necessário mostrar passaporte ou autorização a nenhum palestino.
Tampouco existem guardas armados com bandeiras palestinas, como ocorre nos campos de Sidon e Trípoli. Imagens de líderes libaneses são mais comuns do que as de figuras palestinas nas ruelas ainda destruídas desses campos, onde crianças amontoam-se para pegar um prato de sopa servido por ONGs.
SOBREVIVENTES
Da população atual, poucos estavam vivos quando ocorreram os massacres. Na sexta-feira, a primeira do Ramadã (mês sagrado para o Islã), o Estado visitou Sabra e Chatila e conversou com alguns dos sobreviventes.
‘O alto-falante da mesquita pediu que ficássemos quietos e nos escondêssemos, pois as milícias cristãs estavam entrando nos campos’, disse Rafiza Hatib, de quase 70 anos. Ela se escondeu na mesquita e disse que, após os ataques, juntamente com outras mulheres, teve de limpar as ruelas que ficaram sujas de sangue. No meio delas, viu várias cabeças.
Sua vizinha, Fátima Islam, viu o próprio cunhado ser decapitado. ‘Eles (o cunhado e a irmã dela) passaram a noite na minha casa e, de manhã, quando tentavam ver o que aconteceu com a casa deles, foram pegos pelas milícias que arrancaram a cabeça dele’, afirmou Rafiza. ‘Minha irmã foi levada e morta em seguida. Eu consegui fugir.’
Adnam Alidawi, que hoje é um dos representantes do Fatah no campo, tinha apenas 20 anos. Perdeu vários amigos no massacre. ‘Tive de esconder-me cada hora em um lugar diferente’, disse. ‘Eles matavam com crueldade, cortando a cabeça ou o corpo em pedaços, estuprando as mulheres. Os ataques duraram dois dias e os israelenses apenas olhavam’, afirmou.
Os simpatizantes das milícias cristãs libanesas defendem-se. Evitando comentar sobre o massacre, Fouad Abu Nader, ex-líder da Falange e sobrinho de Bashir Gemayel, lembrou ao Estado que o tio era um líder carismático que havia sido eleito presidente um dia antes de ser assassinado. ‘Ele era insubstituível para os cristãos libaneses e tinha apenas 34 anos quando foi morto.’
Há um mito segundo o qual os cristãos teriam saído mais fortalecidos da guerra civil se Gemayel estivesse vivo – ele foi sucedido na presidência do país pelo irmão mais velho, Amin, considerado bem mais fraco politicamente.
ALIANÇA COM ISRAEL
Sobre a aliança com Israel, um ex-líder de milícia cristã, que preferiu não se identificar, afirmou que era a única saída para eles. ‘Os muçulmanos podiam ter amparo de vários países árabes. E nós, cristãos, a quem poderíamos recorrer a não ser aos israelenses?’, disse o ex-miliciano, que esteve quatro vezes em Israel para treinamento durante a guerra civil, e hoje mora em Mar Elias, bairro de classe média cristã de Beirute, onde muitos prédios têm a imagem de Nossa Senhora na porta.
Em Beirute, 25 anos após Sabra e Chatila, o ódio de muitos cristãos aos palestinos ainda não diminuiu. Jovens membros das Forças Libanesas – grupo radical cristão libanês – que se encontraram com o repórter do Estado, afirmaram que os palestinos não podem, de forma nenhuma, serem integrados à sociedade libanesa porque isso acabaria com o equilíbrio entre as comunidades.
PALESTINOS
Indagados sobre o que fazer com os palestinos, eles defenderam a expulsão ou até ‘mesmo coisas piores’, que eles não quiseram detalhar. Essa visão, no entanto, é de uma minoria que ainda vive no tempo das milícias. A maior parte dos libaneses não quer a integração plena dos palestinos, mas acha que a saída está em uma negociação internacional e não na eliminação sumária, como em Sabra e Chatila.

domingo, 9 de setembro de 2012

Mulher mais rica do mundo quer pagar salários de R$ 140

Quatro reais por dia. Quatro reais por uma jornada de oito horas diárias. E caso o valor não seja satisfatório, o ser pronunciante tem uma solução: Divirta-se menos e trabalhe mais.
Vamos expressar em números o que a entidade escarrou em verbos: R$ 140,00 é muito pouco, mas, utilizando-se da fórmula da magnata para ganhar mais dinheiro, pode-se dobrar a jornada 16 horas diarias que renderiam a "expressiva" quantia de R$ 280,00).

O salário mínimo australiano gira em torno dos R$ 3.000,00, para jornadas de 8 horas, e ainda assim essa entidade acumula um patrimônio avaliado em 30 bilhões de dólares, herdados da família, exploradora do ramo da mineração.

As jornadas de trabalho e os valores propostos pela magnata, são piores que os praticados no início da revolução industrial. Esse tipo de desejo (que no caso de maganos, acaba tornando-se lobby político permanente), aliado à políticas de transferência de renda às avessas (trabalhadores pagam o "prejuízo" do andar de cima) e a recentes manifestações sugerindo alterações na idade mínima laboral, nos levariam a um cenário semelhante ao escravocrata, com a diferença de que o escravo teria de "se virar", sem o alojamento e a alimentação de seu senhor.

O texto abaixo foi extraído da página do site UOL:


Mais rica do mundo diz que salário ideal é o africano, de R$ 4 por dia
Do UOL, em São Paulo
A mulher mais rica do mundo e herdeira de um império de mineração, Gina Rinehart, afirmou  nesta quarta-feira (5) que a Austrália está ficando muito cara para as mineradoras e disse que conseguiria contratar trabalhadores na África por menos de US$ 2 por dia (cerca de R$ 4).
“As evidências são inquestionáveis de que a Austrália está ficando cara demais e pouco competitiva para negócios voltados à exportação”, disse Rinehart em uma rara aparição pública no Clube de Mineração de Sydney. Um vídeo com a fala da bilionária foi divulgado no site da entidade.
“Os africanos querem trabalhar, e seus trabalhadores desejam trabalhar por menos de US$ 2 por dia”, disse ela. “Tais números fazem eu me preocupar com o futuro desse país”, disse. “Estamos nos tornando uma nação de alto custo e alto risco para investimentos.”
Rinehart pediu que as mineradoras possam levar trabalhadores estrangeiros para a Austrália, e sua empresa Hancock Prospecting conseguiu aprovação, em maio, para contratar pouco mais de 1.700 funcionários de construção estrangeiros para um projeto no oeste australiano.

A premiê australiana, Julia Gillard, criticou os comentários da bilionária e disse que o país vai bem. “Não é o costume da Austrália jogar às pessoas US$ 2, jogar a elas uma moeda de US$ 2 e pedir que trabalhem um dia inteiro”, disse Gillard. “Nós apoiamos os salários adequados e condições de trabalho decentes.”

Outra polêmica

Na semana passada, Gina gerou grande polêmica ao fazer piada com os "invejosos", que, segundo ela, passam mais tempo bebendo que trabalhando. Ela também pediu ao governo que diminua o salário mínimo para atrair mais investimentos.
Gina Rinehart, herdeira e presidente do grupo Hancock Prospecting, tem uma fortuna avaliada em US$ 30 bilhões, segundo a revista Business Review Weekly (BRW).
"Se sentem inveja dos que têm mais dinheiro que vocês, não fiquem sentados reclamando. Façam algo para ganhar mais, passem menos tempo bebendo, fumando e brincando, trabalhem mais", completa o texto.

sábado, 1 de setembro de 2012

Porto Alegre comandada por quem?

Fortunati entrega o comando da cidade, "de forma definitiva",

a Jesus Cristo | Foto: Ricardo Giusti/PMPA
Uma comunista, que evidentemente esqueceu-se de Karl Marx*, ajoelha-se e cria comitê Gospel em Porto Alegre, acompanhada pelos demais candidatos que em nome do voto, esquecem que a prefeitura é o Estado, e o Estado é laico.
Não há como participar de encontros LGBT e no dia seguinte, de reuniões com evangélicos, comprometendo-se com políticas contraditórias com ambos.
A coerência cai na esteira eleitoreira.

O texto abaixo foi extraído do site do jornal eletrônico Sul 21:


Em Porto Alegre, principais candidatos buscam aproximação com eleitorado religioso

Rachel Duarte
Os candidatos que lideram as pesquisas para a Prefeitura de Porto Alegre estão marcando compromissos com a finalidade de se  aproximarem dos eleitores religiosos. Manuela D´Ávila (PCdoB) e Adão Villaverde (PT) têm participado de atos organizados por partidos cristãos que integram suas coligações. Já o prefeito José Fortunati (PDT) e o professor Wambert Di Lorenzo (PSDB), aceitam convites para eventos em igrejas católicas. Os representantes da esquerda mais radical, Érico Correa (PSTU) e Roberto Robaina (PSOL) optam por não misturar religião com política e condenam a postura dos adversários. Nesta sexta-feira (31), o PSTU exibirá programa eleitoral em defesa da descriminalização do aborto. O programa vai ao ar menos de uma semana após inauguração do Comitê Gospel da comunista Manuela D´Ávila.
Manuela D´Ávila discursa para lideranças evangélicas em lançamento de comitê Gospel./ Foto: Tomás Edson.
A inauguração do comitê Gospel de Manuela ocorreu no último final de semana, na presença de representantes de igrejas evangélicas, comandados pelo presidente do Partido Social Cristão (PSC), Getúlio Vargas. Segundo a candidata, o espaço é mais um gesto de aproximação dos diferentes grupos de militantes que apoiam sua candidatura. “Lançamos diversos comitês. É um momento de encontro com o militante. Foi para representar a inclusão social. É bem diferente de assinar cartas, como outras candidaturas fizeram”, disse provocando o petista Adão Villaverde.
Villaverde lançou uma carta compromisso com os portoalegrenses com um tópico sobre religiosidade. No texto, defende os territórios das comunidades tradicionais de matriz africana e se compromete em incluir estas áreas no plano diretor da cidade. Já nas ações práticas, compareceu no mesmo final de semana em agendas da Assembleia de Deus e dos movimentos sociais LGBT.
“As nossas relações com as inúmeras denominações e motivações religiosas vêm de longa data. Historicamente o PT tem relações com a igreja católica e evangélica. Mas, temos uma compreensão ecumênica de respeito a todas as convicções. Em todos os governos de que participamos fomos defensores da liberdade de culto. As matizes religiosas tem por essência a inclusão social, fazem trabalhos de amparo e acolhimento, também desenvolvemos políticas públicas neste sentido”, disse o coordenador da campanha petista Gerson Almeida.
Manuela, por sua vez, também fez um gesto para a comunidade LGBT, vítima do conservadorismo religioso, três dias depois de lançar o comitê Gospel. “Lançamos o Comitê LGBT no dia 28 de agosto porque é o Dia da Visibilidade Lésbica. Foi a única ação pensada”, explicou.
“Uso a frase ‘Deus nos abençoe’ nos discursos por convicção”, afirma Fortunati
Já José Fortunati e Wambert Di Lorenzo aceitam convites de igrejas católicas por convicção. “Sou católico e tenho afinidades com muitas teses sociais da igreja. Mas não posso instrumentalizar a igreja. Sigo apenas minhas convicções que estão na minha consciência moral”, explica Wambert.
O tucano visitou a rádio gospel Nova Aliança logo no primeiro final de semana como candidato. Neste sábado (01/09), ele participa de evento numa igreja católica da periferia de Porto Alegre. Ele defende que, enquanto os grupos religiosos quiserem o ouvir, ele irá se apresentar. “Sou candidato. Não sou um cristão político e o estado é laico. Jamais me servirei disso para pedir voto”, afirma.
fortunati pastores
Fortunati entrega o comando da cidade, "de forma definitiva", a Jesus Cristo | Foto: Ricardo Giusti/PMPA
Outro candidato que cumpre compromissos com pastores e cristãos é o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT). No dia 26 de agosto ele participou de evento na Igreja Encontros de Fé, ao lado do pastor Isaias Figueiró. Em setembro de 2011, durante a Marcha de Jesus, Fortunati chegou a dizer que “Jesus está no comando da capital”. Em todos os discursos, seja como prefeito ou como candidato, ele encerra dizendo “Que Deus nos abençoe”.
“Eu encerro todas as minhas falas com a frase ‘Que Deus nos abençoe’ porque não perdi minhas convicções só porque sou candidato. Mas eu respeito a diversidade religiosa. Na nossa gestão criamos um grupo de Diálogo Inter-religioso, para acolher todos os credos. Como prefeito, aceitei e aceito todos os convites de qualquer comunidade religiosa. Mantenho a mesma postura, por isso tenho algumas agendas de campanha neste sentido”, explicou.
Fortunati fez questão de dizer que não tirou fotos ao lado das lideranças religiosas, para não misturar o candidato e a fé. E, respondendo a crítica do presidente do Partido Social Cristão (PSC), Getúlio Vargas, aliado à Manuela D´Ávila (PCdoB),  o prefeito disse que não há burocracia nos alvarás das igrejas evangélicas. “Liberamos conforme os critérios da lei. Não importa qual o estabelecimento, se não estiver com o devido isolamento acústico, não liberamos. Não é porque é uma igreja que terá privilégios, a lei é para todos”, defendeu.
Estado Laico e Aborto
Os candidatos Erico Correa e Roberto Robaina adotam postura neutra. “Não participei e nem vou de qualquer ato religioso. O estado é laico. Utilizar estas agendas é uma política manipuladora e um desrespeito com a própria religiosidade”, argumenta o representante do PSOL.
Para Erico Correa (PSTU), a religião na eleição municipal faz parte do ‘vale-tudo’ pelo voto. “Todos defendem no discurso o estado laico. Mas o voto religioso não é laico. Tem comunista indo à missa, candidatos tomando café com bispos e jantando com os homossexuais. Nossa candidatura vai denunciar o retrocesso do conservadorismo, que já trouxe perdas na esfera nacional quando a Dilma (Rousseff) assinou a Carta ao Povo de Deus e inviabilizou o Kit Gay”, defende.
O PSTU estreia um programa eleitoral nesta sexta-feira (31) defendendo os direitos reprodutivos da mulher e abrindo o debate sobre o aborto na eleição. Como se trata de um tema nacional, os adversários não imaginam que a disputa municipal sofrerá a mesma influência da eleição presidencial de 2010, onde a moral pautou os debates.
Adão Villaverde discursa na Igreja Assembleia de Deus./ Foto: Luiz Avila
“Isto não é da alçada do prefeito. Mas, o PT assume que sempre foi favorável aos direitos das mulheres e a autonomia das mulheres sobre seus corpos. Defendemos isso sem desrespeitar as religiões. Inclusive temos uma proposta de criar um comitê inter-religioso junto ao gabinete do prefeito”, fala o petista Gerson Almeida.
Manuela D´Ávila diz que mantém as convicções que a fizeram presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e defendeu estar disposta a resolver possíveis futuros impasses entre a base aliada sobre as políticas públicas de gênero. “O aborto não é tema municipal. Não irei utilizar minha campanha para responder à nenhuma candidatura sobre isso. Minha preocupação é com um SUS humanizado. E o meu programa de governo é aceito pelos partidos coligados. Se algo mudar, resolveremos as tensões. Toda gestão tem tensão”, fala.
“Usar religião na política é oportunismo”, reprova sociólogo
Mesmo se não render embates ideológicos, a fé poderá acabar rendendo votos de fieis simpatizantes dos candidatos nas urnas. Estratégia reprovada pelo sociólogo e professor de Teoria e Comportamento da Política Clássica da Ulbra, Ottomar Peske. “Isto é oportunismo. A boa fé não permite expedientes ao lado de religiosos ou atos políticos com religiões. Isso trabalha com mensagem no campo da subjetividade, é má fé”, avalia.
Wambert Di Lorenzo (PSDB) disse que tem afinidades com as teses sociais da igreja católica./Foto: Divulgação
Sociólogo luterano, Peske separa o campo do humano e terreno, do campo das discussões sobre fé. “Eu tenho as minhas convicções, porém, quando vou discutir política ou qualquer outra ciência, tento não misturar estas questões. Como dizia Kant: a fé inicia onde a razão termina”, salienta. Para o professor, utilizar a ética da religião serve para a política, o que legitimaria padres ou bispos se candidatarem. “Agora a ética da política não pode ser misturada à religião. Quem legisla ou governa tem que governar para todos, índios, judeus, cristãos. Misturar isso é apelo de marketing. Como fez Collor ao se apresentar utilizando a imagem de Deus. Ele pegou a fama de iluminado, recebendo a benção de Frei Damião e colocando a mãe na TV orando por proteção ao filho. É a tática do vale-tudo”, define.
Até o fechamento desta matéria o candidato Jocelin Azambuja (PSL) não foi localizado para falar sobre o tema. E, também convidado a falar sobre o assunto, o candidato Adão Villaverde foi representado pelo coordenador da campanha petista Gerson Almeida.
* Notas do blogueiro: Escreveu Karl Marx, no livro Crítica da Filosofia do Direito de Hegel:


"É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d'honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.
A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.
A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.
Consequentemente, a tarefa da história, depois que o outro mundo da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade deste mundo. A tarefa imediatada da filosofia, que está a serviço da história, é desmascarar a auto-alienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em crítica da política."

Alguns comunistas esqueceram de Marx.
O sociólogo Luterano equivoca-se ao afirmar que a "Ética da religião serve para a política", apenas defendendo sua categoria, deixando de lado o fato de que a ética e a moral necessárias para o político são republicanas e laicas, sob risco de repressão, perseguição e mesmo o favorecimento de grupos religiosos em detrimento de outros.
Um estado para todos está além da ética religiosa. Está alicerçada na busca de soluções para os problemas reais da sociedade, deixando os imaginários para outro campo, longe do Estado.