Coragem para fazer: o fechamento da sala de cinema Norberto Lubisco
Visitar o site da Secretaria da Cultura do governo Yeda Crusius (PSDB) sempre é uma experiência transcendente. Lá ficamos sabendo das corajosas iniciativas deste governo para “manter viva a tradição gaúcha”, expressão que, aparentemente, resume a compreensão da secretária Mônica Leal acerca da pasta que comanda. Ficamos sabendo, por exemplo, que, pelo terceiro ano consecutivo, a secretária acompanha os mais de 3 mil cavalarianos que participam da 26ª Cavalgada do Mar. “Mulheres a Cavalo pelo Rio Grande” é o lema da cavalgada este ano, uma “homenagem às Anitas”, segundo informa o site da Sedac. Segundo a secretária, trata-se de “um projeto transformador, agregador e educativo, símbolo da nossa cultura”. “A Cavalgada do Mar merece todo o meu interesse e atenção, como secretária da Cultura e como filha aguerrida e orgulhosa do Rio Grande do Sul”, diz Mônica Leal.
A página da secretaria é modesta e não informa todos os feitos corajosos desta filha aguerrida e orgulhosa do Rio Grande do Sul. Como fechar salas de cinema, por exemplo. Não há nenhum registro sobre o fechamento da sala Norberto Lubisco, na Casa de Cultura Mário Quintana. Especula-se que a decisão de fechar a sala de 53 lugares deva-se a uma avaliação feita pela Secretaria da Cultura acerca da ausência de um “projeto transformador, agregador e educativo” no funcionamento da mesma. No site da Casa de Cultura Mário Quintana, há uma breve referência a Lubisco: “Fotógrafo gaúcho que marcou por mais de três décadas a produção cinematográfica. Teve seus trabalhos inúmeras vezes premiados com Kikito de melhor direção de fotografia no Festival de Cinema de Gramado.”
Uma trajetória que, infelizmente, parece ter sido insuficiente para manter a sala aberta e o emprego de três funcionários demitidos. Mas, enfim, a secretária da Cultura e a governadora do Estado tem mais o que fazer para defender os “símbolos da nossa cultura”. Coragem é o que não falta a este governo. Fechar uma sala de cinema alternativa ao circuito comercial é como tirar doce de criança. Só meia dúzia de gatos pingados iam lá mesmo, devem ter avaliado as corajosas e aguerridas gestoras. Que vão para os cinemas nos shoppings. Lá tem pipoca, refri, estacionamento, lojas para comprar algo. Quando retornar da Cavalgada do Mar, a secretária certamente explicará como isso é mais agregador, educativo e transformador.
*** Ricardo Lubisco (Uma dose de cinema), filho de Norberto Lubisco, escreve:
Agradeço o interesse e a perplexidade de todos, que assim como eu, filho do cara, não fomos avisados sobre esse “estupro” da cultura de Porto Alegre e do Rio Grande. Esse descaso do governo até assusta. Estamos tentando divulgar o máximo possível. Fazer barulho e fazer com que reabram o quanto antes a sala, que como disse o presidente do IECINE ontem no programa do Marcelo Noah na Ipanema, está “em perfeitas condições de funcionar”.
Nota do blogueiro: Assisti ao documentário "Fahrenheit 11/09 nessa sala. É triste ver que a cultura gaúcha, sob tutela tucana está sujeita aos ditames de um movimento fajuto (MTG), que empurra goela abaixo de todo o estado um tradicionalismo patrão, fictício, de uma mitologia tão frágil, que não sobrevive a cinco minutos de discussão:
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