sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Temporada de greves

Tem muita gente em greve. Todos com razão. Ninguém faz greve por amor a criar problemas para os outros, ainda que alguns mereçam. As greves surgem, como se diz no jargão das lutas, de necessidades imperiosas. Veja-se o caso da greve dos bancários. É mais do que justa. Só alguém muito reacionário pode condenar a greve dos bancários. Os ganhos dos bancos no Brasil são indecentes, obscenos, pornográficos. Banco é o melhor negócio do mundo. Todo mundo precisa ter uma conta bancária. Tudo passa pelos bancos. Os serviços são os mesmos em todos eles. Os bancos privados adoram se gabar das suas qualidades e fazer de conta que são mais ágeis, eficazes e modernos do que os públicos. É balela. Os caixas eletrônicos do Banco do Brasil são melhores, com interfaces mais amigáveis do que os de todos os bancos privados brasileiros. Banco do Brasil dá mais do que chuchu na cerca. Tem em toda esquina. Só dá o amarelão.
 
Banco no Brasil ganha muito e paga pouco. Os bancários pedem 5% de aumento real. Os patrões oferecem 0,56%. Por que tanto? Será que não vai faltar para esses pobres banqueiros pressionados por bancários sedentos de dinheiro? Que latinha a desses leitões que passam a vida mamando deitados! O lucro dos bancos cresceu 20,11% no primeiro semestre deste ano, um avanço de R$ 4,3 bilhões em relação ao mesmo período de 2010. É mole? Pois eles não querem dividir o bolo. A vida de banqueiro é dura. Tem de sustentar mansões, coleções de arte, intermináveis viagens luxuosas, familiares ociosos, serviçais de todo tipo, fusões estratosféricas, patrocínios a obras culturais que não decolam e ainda viver sob a terrível tensão das altas frequentes e das raras baixas da taxa Selic. Dá pena. Um sufoco. Um pesadelo. Coitados. Um inferno na Terra. Deve ser por isso que eles são aliviados de certos impostos. Ou não sobreviveriam.
Em 2011, o Itaú já faturou R$ 7,1 bilhões, e o Santander, R$ 4,1 bilhões. Realmente fica difícil, com lucros tão modestos, pensar em transferir uma fatia do bolinho para os empregados. Os impiedosos bancários, além de tudo, querem aumento no vale-refeição. Esse pessoal só pensa em comer. Será que esses banqueiros não sabiam de tudo isso quando escolheram essa atividade insana? Se estão insatisfeitos com tantas reclamações e greves, como parece, por que não mudam de profissão? Será que ficam só por causa desses míseros bilhões faturados no mole a cada ano? É quase impossível ver uma greve injusta. A dos Correios, por exemplo, tem toda razão de ser. As manifestações de brigadianos, no Rio Grande do Sul, exprimem reivindicações justíssimas. Se os professores da rede estadual entrarem em greve, em busca do pagamento do piso fixado por lei nacional, estarão cobertos de razão.

Só tem um jeito de evitar os problemas criados por tantas greves: pagar melhor. Sabe-se que é muito difícil para um banqueiro separar-se do seu rico dinheirinho obtido com tanto sacrifício pessoal, mas não tem jeito, terão de cumprir essa meta. Com esforço e treinamento, eles conseguirão. É só uma questão de empenho e missão.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

Nota do blogueiro: Juremir chega no ponto: Eles ganham demais e pagam de menos. Infelizmente o escritor não conhece a rotina dos bancários (ou não quis citá-la). Em número insuficiente e sobrecarregados de trabalho, imersos em incontáveis e diversas doenças ocupacionais (se fizessem um senso de consumidores de medicamentos de tarja preta...), doenças físicas provocadas pelo excesso de trabalho e os movimentos repetitivos, stress e seus mais típicos sintomas, causados por metas inatingíveis, que, como "incentivo" para seu alcance, os bancários contam com toda a sorte de ameaças e assédio moral.
A razão do lucro dos bancos é diretamente proporcional ao esgotamento dos trabalhadores que o constroem, e dele, aproveitam das migalhas.
Criam sistemas de atendimento rápido que só funcionam quando burlados (nos números "tudo azul", mas na fila, horas de espera), estabelecem sistemas de cobrança de resultados que obrigam os bancários a vender, para quem não quer, aquilo que não precisam. Venda casada é palavrão dentro das agências, mas nada se fala de vendas com união estável, ou mesmo, "ajuntadas".
Os enormes lucros dos bancos caminham junto com a pressão, o assédio, o esgotamento físico e mental da categoria.
Na hora de discutir índices de reajustes, oferecem aumentos na casa dos decimais (0,56% na última oferta), algumas "patacas" nas demais verbas (que não integram remuneração e, portanto, não farão parte do salário de aposentadoria desses).
Esse blogueiro é empregado de uma instituição financeira, e como tal, ressente-se da voracidade de seus patrões, cada vez que precisa digitar mais de dois parágrafos.
Esse blogueiro, assim como milhares de trabalhadores do ramo financeiro, decidiu cruzar os braços, fechar as portas, levantar a bandeira e esperar por um pouco de bom senso dos donos do capital. Que eles percebam que nossos doloridos ossos, produzem os montantes dos quais regozijam-se a cada trimestre.
Por dignidade, estamos em greve.

Carteiros e bancários em marcha por melhores condições de trabalho.

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