domingo, 13 de março de 2011

Aos pregadores da morte.

O vídeo abaixo foi extraído do Youtube, o texto, da obra Assim Falava Zaratustra, de Friedrich Wilhelm Nietzsche:




“Há pregadores da morte, e a terra está cheia de indivíduos a quem é preciso pregar que desapareçam da vida.
A terra está cheia de supérfluos, e os que estão demais prejudicam a vida. Tirem-nos desta com o engodo da “eterna”!
“Amarelos” se costuma chamar aos pregadores da morte, ou então “pretos”. Eu, porém, quero apresentá-los também sob outras cores.
Terríveis são os que têm dentro de si a terra, e que só podem escolher entre as concupiscências e as mortificações.
Nem sequer chegariam a ser homens esses seres terríveis.
Preguem, pois, o abandono da vida, e vão-se eles também!
Eis os tísicos da alma. Mal nasceram e já conteçaram a morrer, e sonham com as doutrinas do cansaço e da renúncia.
Quereriam estar mortos, e nós devemos santificar-lhes a vontade. Livremo-nos de ressuscitar esses mortos e de lhes violar as sepulturas.
Encontram um doente, um velho ou um cadáver, e depois dizem: “Reprove-se a vida!”
Os reprovados, contudo, são eles unicamente, assim como os seus olhos que só vêem um aspecto da sua existência.
Sumidos na densa melancolia e ávidos dos leves acidentes que matam, esperam cerrando os dentes.
Ou então estendem a mão para doces e zombam das suas próprias criancices: estão encostados à vida como uma palha, e escarnecem de se apoiarem a uma palha.
A sua sabedoria diz: “Louco é aquele que pertence à vida, mas, assim somos nós loucos! E esta é a maior loucura da vida!”
“A vida não é mais do que sofrimento”, dizem outros, e não mentem.
Tratai pois de abreviar a vossa. Fazei cessar a vida que é só sofrimento!
Eis o ensinamento da vossa virtude: “Deves matar-te a ti mesmo! Deves desaparecer diante de ti mesmo!”
“A luxúria é pecado — dizem alguns dos que pregam a morte. — Separemo-nos e não engendremos filhos!”
“É doloroso dar à luz — dizem os outros. — Para que se há de continuar a dar à luz?” E também eles são pregadores da morte.
“É preciso ser compassivo — dizem os terceiros — Recebei o que tenho. Recebei o que sou! Assim me prendo menos à vida”.
Se fossem verdadeiramente compassivos procurariam desgostar da vida o próximo. Serem maus, seria a verdadeira bondade.
Eles, porém, querem libertar-se da vida. Que lhes importa prender outros a ela mais estreitamente com as suas cadeias e as suas dádivas?
E vós outros também, vós que levais uma vida de inquietação e de trabalho furioso, não estais cansadíssimos da vida? Não estais bastante sazonados para a pregação da morte?
Vós todos que amais o trabalho furioso e tudo o que é rápido, novo, singular, suportai-vos mal a vós mesmos: a vossa atividade é fuga e desejo de vos esquecerdes de vós mesmos.
Se tivésseis mais fé na vida, não vos entregaríeis tanto ao momento corrente; mas não tendes fundo suficiente para esperar nem tão pouco para a preguiça.
Por toda parte ressoa a voz dos que pregam a morte, e a terra está cheia de seres a que é mister pregar a morte.
Ou “a vida eterna” — que para mim é o mesmo — contanto que se vão depressa”.
Assim falava Zaratustra.

Um comentário:

Tania disse...

Estou viva.

Em todos os sentidos da palavra vida. Sinto todas as minhas emocoes, as de prazer e as de nao. tenho plena consciencia de que minha vida e passageira, mais nao me preocupo nem um pouquinho com o final. Todos os dias amanheco feliz por um novo comeco, novas possibilidades. Sinto gostosa leveza de nao me torturar com ideias de castigos, nem pra mim, nem para o meu proximo. Amo os humanos e os animais. nao os amo de forma necessariamente em forma de que tenha obrigacao de salva los. Onde posso causo suas vidas se tornarem mais leve, quando nao reconheco meus limites.
Sei que o meu corpo nao e tao grande quanto os meus sonhos e intelecto, porem so me serve para seguir em frente e sentir todas as esquinas e becos deste corpo e desta mente.
tenho matriz moral baseada em humanismo, em se fizer o mal, por nao estar no momento totalmente consciente, pedir perdao. Assim como perdoo e sigo adiante entendendo que a maioria das pessoas nao tem intencoes de me ferir.
Adoro a vida, pra mim e pra ti. Quando chegar o final, que chegue, mais nao vou me preocupar com o fim. Estou toda tomada com o comeco diario.