Vale a pena ler:
Wanderci Bueno
Ao final do texto, poderá ver o Vídeo que trata da obsolescência programada das mercadorias.
Na semana passada faleceu Steve Jobs, que junto com Steve Wozniak, fundou a empresa Apple, abrindo o período do consumo em larga escala e o uso dos microcomputadores. Muitos jornalistas reverenciaram Steve Jobs como um gênio, ao lado de Henri Ford. Ford introduziu a produção seriada e a linha de montagem na indústria automobilística. Queria que os operários pudessem consumir o novo produto. Suas empresas cresceram vertiginosamente, faturando lucros fabulosos. A Apple, com seu famoso micro computador muito personalizado e de consumo restrito a poucos, também ganhou um fantástico mercado de consumidores. Hoje a Microsoft ocupou lugar de destaque neste seleto mercado.
Os dois produtos, carro e micro, permitem uma integração entre as pessoas. O primeiro permite a seus donos, deslocamentos físicos, podem estar em lugares distantes em bem menos tempo, podem visitar amigos e parentes, irem ao trabalho, passear. O segundo permite a comunicação entre as pessoas em tempo quase real.
Mas o carro isola as pessoas no trânsito, transporta em geral um usuário, que não fala e nem se comunica com ninguém, pouco observa seu entorno. O computador (micro) pluga milhares de solitários usuários que passam a interagir sem nenhuma ação, a não ser a de solitariamente apertarem botões, um lá e outro cá. Uma moderna comunicação de massas que separa as pessoas, as isola em suas salinhas computadorizadas,"integrando-as" on line.
Mas este isolamento imposto às pessoas não se dá pela mercadorias em si, elas não o provocam, esta força desagregadora é inerente ao capital e não às mercadorias e é o capital que impõe o isolamento. O que dá a característica de barbárie ao mundo das mercadorias é a produção capitalista. Carro e computador, como outras mercadorias, são antes de tudo, objetos para a realização do lucro que é apropriado por uma determinada classe: aquela que detém os meios de produção e controlam o aparato
de estado.
de estado.
O capital empresta à mercadoria uma particularidade que não é dela, essa particularidade é dada pelo lucro. Elas, as mercadorias, são cada vez mais perenes. Com o transcorrer do tempo, algumas mercadorias (aquilo que é produzido pelo sistema capitalista) passaram a ter cada vez mais vidas úteis mais curtas e também foram reduzidas as quantidades de matérias primas em outras. A mercadoria encolheu, mas seu preço permaneceu o mesmo. Uma caixa de fósforos tinha, há 20 anos passados, 45 palitos, há pouco mais de 10 anos passou a ter 40. Um rolo de papel higiênico tinha 45 metros, passou a ter 40 metros, ou 35. Uma embalagem de biscoitos tinha 240 gramas, passou a ter 180, um litro de óleo passou a ter 900 ml e não mais 1000 ml. Uma lampada tinha vida útil de 2 ou 3 anos, agora dura 6 meses. Uma geladeira era para toda a vida, agora a cada ano surgem milagrosas geladeiras que "fazem" até água, só não fazem comida. Sem falar nos carros e micros. Ambos mudam a cada ano, e quando menos se espera tudo que um cidadão tinha já está velho. Roupas, sapatos, comidas, tudo morre rapidamente. Até mesmo a cultura e a arte entraram nesse reino do nascer e perecer quase instantâneo.
Aumentando-se a produtividade no mundo da produção capitalista, foi possível gerar novas tecnologias. As máquinas antes operadas por 10 operários passaram a ser controladas apenas por 1, e este, junto com a máquina robô, produz uma mais valia mais que decuplicada. Mas o pobre trabalhador ao invés de trabalhar menos, trabalha mais e mais e ganha menos e menos. E ainda, de sobra, resta um imenso batalhão de desempregados.
Por outro lado, o consumidor gasta cada vez mais em coisas supérfluas e de curta vida. Não porque ele queira, em geral é induzido a isso. Em um dia produz, compra, consome, tudo em velocidade cada vez maior, na velocidade das máquinas, dos carros, das motos, dos computadores e do lucro que engorda os capitalistas vorazes, esta é a lógica do sistema. Na manhã seguinte, quando o consumidor desperta entorpecido, já está na hora de comprar outra mercadoria, pois aquela que tinha já está morta, perdeu sua vida útil, ele “descobre” que foi lançada em promoção, outra mercadoria, cujo botaõzinho não é mais quadrado, a aparência tem um designer mais que arrojado. A que tinha antes já não lhe serve, vai para o lixo. É isso, o capital não só produz armas de destruição, ele diariamente destrói trabalho humano para se reproduzir. É a barbárie invisível do dia a dia.
A vida e morte das mercadorias entraram juntas com o capitalismo no reino da barbárie, pois é o reino do lucro incessante obtido não para a satisfação das necessidades humanas, mas sim para a permanência e sobrevivência cega do próprio sistema. O consumo entrou no reino da barbárie. As relações humanas estão cada vez mais mediadas por coisas que separam as pessoas e estas se relacionam com as coisas como se elas mesmas fossem coisas.
Mas quando algo extraordinário explode na grande engrenagem do sistema capitalista, que já não pode mais se desenvolver sem destruir, e passa a afetar violentamente a miserável vida das pessoas de carne e osso, que fazem rodar a roda de toda produção e do consumo, as pessoas se erguem e saltam adiante de maneira violenta e brusca, querendo se livrar da vida inútil, mofada e repetitiva, programada e ditada pelo capitalismo. Aí as pessoas descobrem que há mais, muito mais que carros e computadores, que suas vidas úteis e seu bem estar podem ser encontrados por meio da luta comum, ao lado de seus vizinhos que sofrem os mesmos ataques do capital, que lhes retira direitos e lhes impõe a barbárie no trabalho e no consumo. Abrem-se assim as épocas das revoluções.
Vejam o vídeo sobre a obsolescência programada das mercadorias. Editado em espanhol. Vale a penas vê-lo.
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