segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre muros e muros.

O Muro de Berlim – Mais um mito da Guerra
-Fria Dentro de poucas semanas é de esperar que muitos dos meios de comunicação ocidentais virem as suas máquinas de propaganda para comemorar o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, no dia 9 de Novembro de 1989. Serão exibidos todos os clichés da Guerra-Fria sobre O Mundo Livre vs a Tirania Comunista e será repetido o conto simples de como apareceu o muro: Em 1961, Berlim Leste, comunista, construiu um muro para impedir que os seus cidadãos oprimidos fugissem para Berlim Oeste e para a liberdade. Porquê? Porque os comunas não gostam que as pessoas sejam livres, conheçam a "verdade". Que outra razão poderia haver? Primeiro que tudo, antes de o muro ser construído havia milhares de alemães de Leste que passavam para ocidente para ir trabalhar todos os dias e depois regressavam a Leste ao fim da tarde. Portanto, não estavam obviamente a ser presos no leste contra a sua vontade. O muro foi construído principalmente por duas razões:
1- O ocidente estava a prejudicar o Leste com uma vigorosa campanha de recrutamento de profissionais e trabalhadores especializados da Alemanha de Leste, que tinham sido educados à custa do governo comunista. Isto acabou por levar a uma grave crise de mão-de-obra e de produção no Leste. Referindo-se claramente a isto, o New York Times noticiou em 1963: "Berlim Oeste ressentiu-se economicamente do muro com a perda de cerca de 60 mil trabalhadores especializados que saíam diariamente das suas casas em Berlim Leste para os seus locais de trabalho em Berlim Oeste".
2- Durante os anos 50, os guerreiros-frios americanos na Alemanha Ocidental instituíram uma campanha feroz de sabotagem e subversão contra a Alemanha de Leste destinada a fazer descarrilar a maquinaria económica e administrativa deste país. A CIA e outros serviços americanos de informações e militares recrutaram, equiparam, treinaram e financiaram grupos e indivíduos activistas alemães, do ocidente e do leste, para efectuarem acções que percorressem o espectro desde o terrorismo até à delinquência juvenil, tudo o que tornasse difícil a vida do povo da Alemanha de Leste e enfraquecesse o seu apoio ao governo, tudo o que denegrisse os comunas.
Foi um empreendimento fantástico. Os Estados Unidos e os seus agentes utilizaram explosivos, incêndios, curto-circuitos, e outros métodos para danificar centrais eléctricas, estaleiros, canais, docas, edifícios públicos, bombas de gasolina, transportes públicos, pontes, etc, fizeram descarrilar comboios de carga, ferindo gravemente trabalhadores; queimaram 12 carruagens de um comboio de carga e destruíram tubagem de ar comprimido de outros; utilizaram ácidos para danificar maquinaria fabril vital; puseram areia na turbina duma fábrica, fazendo-a paralisar; deitaram fogo a uma fábrica de telhas; promoveram greves de zelo em fábricas; mataram 7 000 vacas duma fábrica cooperativa de lacticínios através de envenenamento; acrescentaram sabão ao leite em pó destinado às escolas da Alemanha de Leste; estavam na posse, quando foram presos, duma grande quantidade do veneno cantárida que se destinava à produção de cigarros envenenados para matar importantes alemães de Leste; lançaram bombas de mau cheiro para interromper reuniões políticas; tentaram interromper o Festival Mundial da Juventude em Berlim Leste enviando convites falsificados, promessas falsas de alojamento e pensão grátis, notícias falsas de cancelamento, etc; efectuaram ataques aos participantes com explosivos, bombas incendiárias e equipamento de furar pneus; forjaram e distribuíram grande quantidade de senhas alimentares falsas para provocar a confusão, a escassez e a revolta, enviaram falsos avisos de impostos e outras orientações do governo e documentos para provocar a desorganização e a ineficácia na indústria e nos sindicatos… tudo isto e muito mais.
Durante os anos 50, os alemães de Leste e a União Soviética apresentaram queixas, repetidas vezes, aos antigos aliados dos soviéticos no ocidente e às Nações Unidas sobre actividades específicas de sabotagem e de espionagem e exigiram o encerramento dos gabinetes na Alemanha Ocidental que acusavam de serem responsáveis, e de que forneceram nomes e moradas. As suas queixas caíram em saco roto. Inevitavelmente, os alemães de Leste começaram a dificultar a entrada no país aos que provinham do ocidente. Não nos esqueçamos que a Europa de Leste se tornou comunista por causa de Hitler que, com a aprovação do ocidente, utilizou-a como a via rápida para chegar à União Soviética e varrer o bolchevismo para sempre. Depois da guerra, os soviéticos decidiram fechar essa via rápida. Em 1999, o USA Today noticiava: "Quando caiu o Muro de Berlim, os alemães de Leste imaginaram uma vida de liberdade em que os bens de consumo fossem abundantes e terminassem as dificuldades. Dez anos depois, uns espantosos 51% dizem que eram mais felizes com o comunismo".
Mais ou menos na mesma época, nasceu um novo provérbio russo: "Tudo o que os comunistas disseram sobre o comunismo era mentira, mas tudo o que disseram sobre o capitalismo era verdade".



Nota do blogueiro: O texto, extraído do sítio resistir.info, é do Historiador americano William Blum e mostra algo diferente do que vimos pelas telas da mídia corporativa brasileira, que tenta desesperadamente reescrever a História de acordos com os interesses de seus anunciantes e correligionários (há muito tempo a mídia brasileira tornou-se partido político).
No Jornal Nacional de hoje, vimos a cobertura dos festejos pela queda do Muro de Berlin, na qual o pelêgo papista polonês Lech Walessa iniciou uma efadonha brincadeira com dominós gigantes, simbolizando a queda do muro. Entrevistas com professores de história que sinceramente desconheço, mesmo sendo do meio, nas quais mencionavam o "fim da possibilidade de ideias serem incutidos à força nos seres humanos", que surgiu com a queda do Muro (A Iugoslávia, o Afeganistão e o Iraque devem concordar com isso). Nenhuma posição em defesa dos "perversos comunistas", estabelecendo, talvez até mesmo sem querer, uma relação direta com a Era em que vivemos, no Pós-Muro: A era do consenso. Algo como o descrito por Francis Fukuyama, em artigo, que depois virou livro, no qual anunciava o fim da História, a vitória de uma ideologia sobre as demais, a submissão do homem ao produto, a "coisificação" definitiva. A era do "Deus Mercado" e sua máxima sagrada: Consumam.
Não havia um contraponto na matéria Global (tudo era festa), da mesma forma como querem ocultar o contraponto ao destrutivo modelo tenazmente defendido pelo conglomerado. Criticam com muita força, ásperas palavras e imagens cuidadosamente editadas o totalitarismo comunista, e nem se preocupam em enviar para a Sibéria alguém que pense de outra forma, pois midiaticamente, graças a esses meios, elas não existem.
Com a queda do Muro não temos mais uma referência, mesmo que desvirtuada, de contraponto ao sistema de consumo de massa que tornou-se "O Mundo Real", e do qual não há alternativas possíveis, visto que essas foram enterradas sob os destroços desse, pelo menos, não uma referência tão visível, que evitasse a instauração de uma tirania mundial disfarçada, por parte do "outro lado".
Abaixo, o "control c, control v" do texto publicado no excelente blog Abundacanalha, sobre outro tipo de hipocrisia, envolvendo muros, à qual aplica-se a charge acima:
Sobre muros
A guerra fria acabou? Contraditoriamente, talvez a festa que a grande mídia internacional fará hoje para comemorar seu fim, com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1983, prove exatamente o contrário. Velhos clichês estarão de volta, embalados em belas imagens. Lembrarão que os maus comunas do lado de lá impediam seu povo de usufruir as maravilhas do mundo capitalista. Mas há vozes dissonantes, que não serão convidadas para os canapés, provando que o Fla x Flu resiste ao tempo. O historiador americano William Blum é uma delas, em artigo traduzido recentemente no Resistir cita um jornal vermelhíssimo de 1963 que aponta uma justa motivação:
"Berlim Oeste ressentiu-se economicamente do muro com a perda de cerca de 60 mil trabalhadores especializados que saíam diariamente das suas casas em Berlim Leste para os seus locais de trabalho em Berlim Oeste"
O jornal é um tal de New York Times, que assim relatou o incômodo de um estado que investia pesadamente em educação e via surgir uma crise com a perda de seu investimento.
Mas claro, há sempre o “mas”. O muro também servia para impedir que os comunistas fossem ao outro lado comer criancinhas. Temos que lembrar.
Particularmente, continuo achando muita hipocrisia comemorar a queda de um muro quando o mundo, dito “livre”, construiu tantas muralhas nesses últimos anos:
Muro construído pelo Egito na fronteira com Gaza.

Muro construído pelos EUA na fronteira com o México. Mais ótimas fotos aqui.

Muro construído pela prefeitura do Rio de Janeiro na favela Dona Marta.

Um comentário:

Márcio Brasil disse...

Vamos mandar construir um muro lá no Jardim do Ipê também!

Para deixar a elite santiaguense afastada de nosotros

Abração!