terça-feira, 18 de novembro de 2008

Espigões e campanhas eleitorais


Na coluna de hoje do sociólogo Juremir Machado da Silva, destaca a declaração do vereador Cláudio Sebenelo de que teria recebido uma proposta de "ajuda financeira" da empresa que comprou a área do antigo Estaleiro Só, durante a campanha eleitoral.

O relato do vereador é deveras esclarecedor e deixa bem claro o que pode ter motivado os "Nobres Edis" a aprovar de forma tão rápida e om tanto entusiasmo. Totalmente compreensível, afinal, dívidas de campanha tem de ser pagas, não importa a que custo.

Abaixo o texto publicado por Juremir no Correio do Povo de hoje:

O PONTAL DAS AJUDINHAS
Por Juremir Machado da Silva

Está longe de terminar a polêmica em torno do projeto Pontal do Estaleiro, cuja aprovação pelos nossos representantes municipais, em meio a um clima de Bombonera, deixou seqüelas. Houve xingamentos, insultos, disputas, ameaças e lances discutíveis e extremamente discutidos. Boatos não faltaram de que houve isto e aquilo, que é como se chama 'aquilo' que não quer se denominar de 'isto' por falta de provas ou de interesse. Telefonei ontem para Cláudio Sebenelo, vice-presidente da Câmara de Vereadores, com a intenção de entender um pouco melhor o desfecho do episódio. Ele me contou uma historinha que dá muito a pensar. Cada um que tire as suas conclusões tranqüilamente.


Em agosto, ou começo de setembro, um enviado da BM PAR, a empresa que comprou a área do Estaleiro Só com o fim de construir ali um condomínio de ricos e faturar com a mudança da lei em vigor, procurou Cláudio Sebenelo e ofereceu ajuda financeira para a sua campanha eleitoral. Como qualquer candidato, Sebenelo estava com pouco dinheiro. Como em qualquer eleição, o dinheiro é decisivo. O enviado generoso não estabelecia condições nem expectativas. Nada propunha, nada pedia, nada sugeria, nada cobrava. Tudo ficava implícito. Sebenelo diz ter explicado ao autor da oferta que não podia aceitar ajuda de uma empresa interessada na aprovação de projetos pela Câmara de Vereadores. Elementar! É o que se chama de recusa ética.


Sebenelo não se elegeu. Ficou como primeiro suplente. Votou contra o Pontal do Estaleiro. Está agora preocupado com a imagem da Câmara de Vereadores junto à opinião pública. Garante estar pronto para repetir a sua história ao Ministério Público. Ninguém duvida da existência de homens sérios entre os políticos. Generalizações não são pertinentes. Mas também é certo que quando os lobistas circulam à vontade entre parlamentares e oferecem ajuda, não é simplesmente por apreço à cor dos olhos de cada um. Como adoram dizer os liberais, com muita razão, não existe almoço grátis. Muito menos ajudinha eleitoral desinteressada. Ainda mais quando dorme nas gavetas do parlamento um projeto decisivo e rentável a ser aprovado depois das eleições. Faz muito que a filosofia sustenta um primado simples: não há conseqüência sem causa. Nunquinha! A historinha de Cláudio Sebenelo poderá servir de subsídio ao prefeito José Fogaça na hora de tomar a sua decisão quanto à lei aprovada pela Câmara de Vereadores. O bom senso indica-lhe uma só coisa a fazer: vetar. Na falta de luz suficiente para o exame transparente dos fatos, obscurecidos por interesses diversos e gananciosos, nada melhor do que abrir uma nova janela para o debate público. Se Fogaça vetar, a Câmara pode ter a grandeza de render-se. Um plebiscito seria o melhor caminho para resolver o caso. Nisso tudo, porém, ficam três perguntinhas ingênuas, infantis, simplórias: não caberia uma CPI do Pontal? Será que o enviado da BM PAR só ofereceu ajuda a Cláudio Sebenelo? Não lhe teria ocorrido a idéia de oferecer o mesmo apoio financeiro a outros necessitados? Perguntar, como dizia o bordão de um ex-humorista, não ofende. Aquilo que ofende muito é a falta de respostas. Com quantas ajudinhas se faz um pontal? Só!

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