domingo, 30 de novembro de 2008

Parece coincidência, mas não é.

Texto do sociologo Juremir Machado da Silva, publicado no jornal Correio do Povo de hoje, no qual fala sobre as loucuras de um governo autoritário e sem razão de ser. Onde lê-se Palomas, pode-se substituir por Rio Grande do Sul, sem prejuízo de contexto.


SÓ EM PALOMAS MESMO

Por Juremir Machado da Silva


Tem coisas, juro, que só acontecem em Palomas! Lá, por exemplo, somente o Estado tem direito de matar, seja aprovando uma lei da pena de morte, seja enviando os palomenses à guerra. Sem contar que a Polícia se dá o direito de eliminar alguns elementos incômodos alegando legítima defesa ou empregando um recurso muito eficaz e expedito, a bala perdida que sempre acha um alvo, embora nem sempre o desejado. Tudo é original em Palomas. Se professor faz greve, a secretaria de Educação corta o ponto e não paga os dias trabalhados. Dar calote é uma atribuição exclusiva do Estado. Tem professor em Palomas, contratado em regime emergencial, que não recebe há seis meses. Nesse tipo de caso, bastante comum, ninguém fala em ruptura unilateral de contrato ou em radicalismo das autoridades.


Depois da última greve, com o ponto cortado, teve um professor em Palomas que recebeu R$ 80,00. Eu disse OITENTA! Não acreditam? Pois é, esse tipo de coisa só acontece em Palomas. Lá o governo tem direito ao calote de longo prazo, os chamados precatórios. Deve, não nega, mas não paga nem fixa prazo para saldar as dívidas. Palomas é tão especial que por lá só o Estado tem direito de não cumprir as leis. Às vezes, porém, não tem jeito. Sai uma investigação. Dificilmente algum figurão é punido. Algo realmente exclusivo de Palomas é a secretaria da Educação. O cargo de secretário é quase sempre exercido por um ex-presidente do sindicato dos professores. Basta mudar de lado do balcão para que a pessoa se transforme radicalmente. Quem antes lutava por negociação, num passe de poder começa a exigir punições rigorosas. Quem exigia aumentos endossa o desrespeito a leis federais aumentando salários. Palomas é coerente na sua incoerência. Faz malabarismos para continuar conservadora. Os palomenses acham-se os mais cultos e politizados da Nação. Na hora de pega pra capar, conforme o linguajar de lá, comportam-se como o resto do país. Falam muito na importância da educação, mas não querem pagar salários justos aos professores. Aqui entre nós, Palomas é muito reacionária.


A governadora de Palomas (a vila, assim como o Rio Grande do Sul, é administrada por uma mulher de faca na bota) já foi à capital federal defender os privilégios das concessionárias de pedágios. Nunca o fez pelos professores. Em Palomas, pobre não tem vez. Chega a ficar meses na fila do SUS para fazer algum exame banal. Palomas é uma vaca holandesa. Todo mundo quer mamar nas suas tetas. É que os palomenses colocam a família acima e dentro de tudo. Nunca se viu gente mais família. Até no trabalho bem pago todos querem estar juntos. Preciso insistir num ponto redundante para evitar comparações inadequadas. Estou falando de coisas que só acontecem em Palomas. Qualquer semelhança com outros lugares é mera coincidência.

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