terça-feira, 16 de março de 2010

Diário Gauche: Criança não pode ser alvo da publicidade para o consumismo

Por Frei Betto
Publicado no blog Diário Gauche, do sociólogo Cristóvão Feil.
Criança e consumo
A capital paulista sedia, de hoje [16/3] a quinta-feira, no Itaú Cultural, o 3º Fórum Internacional Criança e Consumo, uma iniciativa do Instituto Alana. Especialistas no tema debaterão como prevenir e reduzir os efeitos da publicidade de produtos e serviços destinados a crianças e adolescentes.
A população com idade inferior a 12 anos é hipervulnerável à comunicação mercadológica devido ao mimetismo próprio da infância, à falta de discernimento, à afirmação da personalidade, à dificuldade de distinguir desejo e necessidade. "Formar cidadãos ou consumistas?", eis a questão.
Nessa cultura hedonista, em que os valores sonegados da subjetividade são pretensamente substituídos pelo valor agregado da posse de bens e serviços, crianças e jovens se veem ameaçados pela incidência alarmante da obesidade precoce, da violência (inclusive nas escolas), da sexualidade irresponsável, do consumo de drogas, do estresse familiar e da degradação das relações sociais.
Com a laicização crescente da sociedade ocidental, que, com razão, repudia o fundamentalismo religioso, a moral perde seu anteparo na vivência da fé, as ideologias altruístas, em crise, cedem lugar ao individualismo egocêntrico e a tecnociência aprimora meios de relacionamento virtual em detrimento da alteridade real e da inter-relação comunitária e coletiva.
Vivemos, como Sócrates, na terceira margem do rio: os deuses do Olimpo já não oferecem parâmetros éticos e a razão depara-se com a própria insuficiência diante da avassaladora pressão mercantilizadora de todas as dimensões da existência. Onde, nos mais jovens, o idealismo, a abnegação, a ânsia pelo transcendente, o sonho de mudar o mundo?
Na contramão da tendência imperante, o projeto do Instituto Alana disponibiliza instrumentos de apoio e informações sobre direitos do consumidor nas relações de mercado que envolvam crianças e adolescentes.
Produz e distribui conhecimento acerca do impacto do consumismo na formação desse público, fomenta a reflexão a respeito da influência da mídia e da comunicação mercadológica na vida, nos hábitos e nos valores de pessoas em idade de formação.
O projeto Criança e Consumo engloba três áreas: jurídico-institucional, comunicação e eventos, pesquisa e educação.
A área jurídico-institucional recebe denúncias de práticas de comunicação mercadológica -principalmente publicidade veiculada em TV, internet e revistas- consideradas abusivas. Em contato com as empresas responsáveis pela peça publicitária, faz-se notificação para que cesse a veiculação do apelo comercial. A área de comunicação e eventos promove debates e seminários para discutir e divulgar essas questões.
A de educação e pesquisa estuda de maneira multidisciplinar a temática e põe no site http://www.blogger.com/www.criancaeconsumo.org.br bibliografia sobre o tema.
A partir dessas iniciativas, o projeto contribui para a formação de uma consciência crítica e cidadã sobre os aspectos negativos da mercantilização da infância e da juventude. No início de março, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sinalizou que as novas regras sobre publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis, a serem divulgadas, não oferecerão proteção especial ao público infantil.
A partir dessas iniciativas, o projeto contribui para a formação de uma consciência crítica e cidadã sobre os aspectos negativos da mercantilização da infância e da juventude. No início de março, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sinalizou que as novas regras sobre publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis, a serem divulgadas, não oferecerão proteção especial ao público infantil.
Segundo ela, isso significa o poder público negligenciar os direitos da crianças e adolescentes, declinando-os em favor de interesses privados. Crianças não podem ser tratadas como consumidores comuns. Merecem tratamento diferenciado. É preciso levar em conta o trabalho da força-tarefa criada em 2009 pelo Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, voltado à proteção de consumidores hipervulneráveis. Essa força-tarefa conta com a participação do Instituto Alana, do grupo de comunicação social do Ministério Público Federal, da Anvisa e do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
Induzir a criança ao consumismo precoce é inflar o desejo na direção de ambições desmedidas. E, quanto maior o anseio, mais profundo o buraco no coração e, portanto, a frustração e os sintomas depressivos. Perversa intuição profissional faz com que o traficante de drogas conheça bem essa patologia e dela saiba tirar proveito.
Artigo de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, assessor de movimentos sociais e escritor. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004). Publicado hoje na Folha.




Nota do blogueiro: O vídeo acima foi extraído do filme "Super Size Me", de Morgan Spurlok. Mostra crianças, em idade escolar, em sua maioria acima do peso, repetindo cantigas relacionadas à indústria do Fast Food, utilizadas e comerciais de rádio e tv, direcionadas á esse público.

O resultado é mostrado no próprio documentário: Crianças levadas por esse tipo de comercial, convencendo aos pais, à levá-los a esses "centros de engorda", causando os mais diversos males à saúde desses.

A simples menção à regulamentação e controle desse tipo de comercial leva a indústria da propaganda e seus maiores aliados, a grande mídia, a levantarem-se em palavras de ordem, contestando o que chamam de censura. Iniciam campanhas homéricas de convencimento, utilizando-se do velho chavão de que "anuncia-se, mas a escolha é de quem vê".

Como se uma criança nessa idade tivesse consciência e conhecimento do que está por trás das musiquinhas, palhaços, anúncios coloridos e toda a estrutura do "entretenimento infantil", a serviço do consumo.

Indo mais a fundo, e explorando uma gama maior de tipos de comerciais e anúncios dirigidos às crianças, temos o documentário brasileiro "A criança é a alma do negócio", de Estela Renner, aprofunda mais essa discussão, mostrando que a indústria, soube aproveitar-se, e muito, da fragilidade desse público.

O documentário de Renner pode ser baixado aqui: http://www.baixarfilmesgratis.net/download/download-crianca-a-alma-do-negocio-dublado/

O de Spurlok, aqui: http://baixafilmes.org/download-super-size-me-a-dieta-do-palhaco/

Um comentário:

Márcio Brasil disse...

Ó prá tu:

http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/03/caiu-casa-da-editora-abril-suntuoso.html