terça-feira, 21 de abril de 2009

Racismo no dos outros é refresco...

Um determinado tipo de pessoas, defensoras de uma determinada ideologia, seguidoras de um certo "way of life", podem discursar por horas sobre um determinado tema, outros, também ideólogos de tal "way", podem simplesmente se recusar a comparecer a um evento, onde o tema vai ser discutido, por causa de alguém, que estará presente, e não compartilha da mesma visão, não defende a mesma ideologia, e não vive o mesmo "dream" (que ultimamente está mais para "nightmare"), e que portanto, deveria ficar calado.

Uma cena ridícula dessas ocorreu hoje, durante uma conferência da ONU contra o racismo, a intolerância e a xenofobia. Nove países, viraram as costas para o evento por causa da participação do presidente iraniano, Mahmoud Ajmadinejad, especialmente pelo fato de que ele falaria sobre a postura racista, intolerante e xenófoba de Israel, frente aos palestinos.

Nove países boicotaram a Conferência desde o início, por causa da participação de Ahmadinejad - único chefe de Estado presente - e por considerarem a reunião anti-semita: Estados Unidos, Israel, Canadá, Austrália, Alemanha, Itália, Holanda, Polônia e Nova Zelândia.

Ficou até engraçado: com uma atitude racista, xenófoba e intolerante, boicotaram uma conferência que discutiria justamente o racismo, a xenofobia e a intolerância.

Ahmadinejad afirmou que 'Após o final da Segunda Guerra Mundial, eles recorreram à agressão militar para privar de terras uma nação inteira sob o pretexto do sofrimento judeu. Enviaram imigrantes da Europa, dos Estados Unidos e do mundo do Holocausto para estabelecer um governo racista na Palestina ocupada'.

O presidente iraniano acusou o Conselho de Segurança da ONU de ter 'acolhido com silêncio os crimes daquele regime”. Como exemplo, citou os bombardeios contra civis na Faixa de Gaza.

Parece-me razoável, até na Globo, que é a Globo dá pra ver isso. Mas seu discurso foi mais além. Afirmou que o sionismo, movimento que lançou as bases do Estado de Israel, adotou as práticas nazistas, contra o povo palestino. Algo absurdo, segundo os líderes que fugiram ao debate, mas Gaza, já foi classificada, e se apresentava como um grande Gueto. Com a construção dos muros Israelenses, se assemelha mais a um campo de concentração.

Depois dos lamentos do Secretário Geral da ONU, sobre o abandono da conferência, lideranças pró-israel manifestaram-se, obviamente, que no mesmo compasso, na mesma "cadência":

O ministro das relações exteriores da Noruega declarou que ouviu "com atenção o presidente iraniano e vi a incitação ao ódio através de uma mensagem de intolerância", (diferente dos que lhes deram as costas? Ou das bombas israelenses sobre as famílias de Gaza? Denunciar um crime, agora, é incitar o ódio.).

Esse trecho de seu discurso é emblemático: "Suas palavras vão ao encontro da dignidade e do espírito da conferência". Fica evidente que o espírito da conferência era fazer vista-grossa aos crimes de Israel, à sua política xenófoba e de extermínio moral e físico dos palestinos.

O "popstar francês", Nicolas Sarkozy, condenou a fala do iraniano, classificando-o como um "apelo intolerável ao ódio racista, ele ignora os ideais e valores inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos".

Israel conhece muito bem esses ideais, não Sarkozy? A turba que virou as costas à conferência, que é um espaço para embates políticos, para o confronto de opiniões, põs esses ideais em prática, ao esvaziar o encontro, para que o que foi dito não valesse nada.

E assim eles dormem tranquilos, afinal, não precisam debater, ou prestar contas pelo horror que ajudaram a criar, nem mesmo fazer um "mea-culpa", pelo suporte que dão à política xenófoba, racista e assassina do Estado de Israel.

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