Ha muito tempo as classes abastadas tem de conviver com um problema crônico e extremamente desagradável: Estão tendo de levantar seus delicados pezinhos para passar por cima da "ralé que vive nas calçadas", ou de desviar dos pedintes e de todos aqueles que, "mesmo tendo todas as maravilhosas oportunidades que o mercado lhes oferece, são incompetentes, preguiçosos, ou burros demais para tomar uma atitude "pró-ativa", e alcançar o seu lugar ao sol".
É essa a ótica da reportagem de hoje do "Jornalão da RBS", que noticia mais esse carma da sociedade, esse câncer que toma conta das ruas e atrapalha o ir e vir daqueles que são os reais "donos do pedaço", os possuidores de créditos, que movem o sistema consumista que sustenta esses jornalões.
Essa situação requer medidas drásticas e ações firmes por parte do Estado, bem como a pressão daqueles que se sentem atrapalhados pelos "descassificados" que vivem nesses ambientes.
Como sugestões do que fazer, deveriam ser construídos mais presídios (albergues como eufemismo para tais ambientes), para armazenar esses seres, ou então utilizar-se das práticas de "remoção" que alguns prefeitos estão utilizando. Pegam uma van, ou um veículo qualquer, enchem de mendigos e pedintes e os levam para cidades distantes. "Eles que passem a ser problema de outros". Obviamente que se a moda pegar, não se sabe qual vai ser o "destino final" dos removidos, ou se essas administrações vão manter frotas exclusivas para esse fim, numa eterna operação de carga e descarga de indesejados.
A reportagem em si é um reflexo do pensamento dominante, de proteger o consumo a todo o custo, como forma de manter um sistema político e ideológico que fabrica esse tipo de distorção: Os que tem as benesses do sistema tem de transpor o mar de flagelados criados por eles, por sua acumulação de capital, por sua ânsia de consumo e acumulação irracional de bens, em detrimento daqueles que acabam ficando sem nada.
O jornalão quer mostrar a todos quem manda nas ruas. Ao melhor estilo dos velhos filmes de gângsters, "se não sair, alguém te pega".
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