O autor da frase que intitula esse post, é o coronel Paulo Roberto Mendes, comandante da Brigada Militar, que está instituindo o "Novo jeito de policiar" no Estado. A frase referia-se à pena de morte, defendida com fervor pelo "Comandante", mas vou utilizá-la como forma de illustrar quem ele quer mandar pro "paredão" e quem acabou indo, por causa dessa política.
Para o "paredão", desde que assumiu, ficou claro que Mendes quer mandar os movimentos sociais, que tenta criminalizar e nos quais a sua polícia mostra sua força. Mas isso já era de se esperar o surpreendente é o que revela uma entrevista feita com um recruta, pelo jornal extra-oficial do Governo do Estado (Zero Hora), que revela quem também acabou indo para o "paredão" de Mendes.
12 de agosto de 2008 N° 15692
POLICIAMENTO
“Qualquer coisa, a gente corre”
Entrevista: recruta que policia as ruas da Capital
Natural de uma pequena cidade do Interior, um jovem deixou a mulher e os filhos para viver um sonho na Capital: concluir o curso de formação de soldados e vestir a farda da BM.
Natural de uma pequena cidade do Interior, um jovem deixou a mulher e os filhos para viver um sonho na Capital: concluir o curso de formação de soldados e vestir a farda da BM.
Em dois meses, a expectativa transformou-se em decepção. Sem salário ou treinamento, é um dos 523 recrutas que foram colocados nas ruas antes do tempo: (grifo meu)
Zero Hora – Quantos tiros o senhor deu em treino?
Recruta – Foram três tambores de 38 (revólver calibre 38). Uns 20 tiros.
ZH – O senhor já participou de alguma ocorrência?
Recruta – Felizmente, não. A única coisa que fizemos foi entrar em uma boate, na Avenida Farrapos, para fazer uma abordagem. Sorte que tinha um oficial junto, pois não tinha a menor idéia do que fazer. (grifo meu)
ZH – Qual a principal dificuldade que vocês enfrentam na rua?
Recruta – O despreparo. Achava que acompanharia um oficial, mas colocaram eu e outro aluno no policiamento. Não conheço nada em Porto Alegre. Só sei onde fica a PUC. Não saberia nem preencher aquele TCC.
ZH – O senhor se refere ao TC?
Recruta – Isso, o termo circunstancial (o nome correto é termo circunstanciado, para casos de crimes com pena prevista de até dois anos)
ZH – Qual a orientação que vocês recebem ao irem para a rua?
Recruta – Dizem para a gente ficar caminhando de um lado para o outro, observar o que acontece e abordar quem estiver em atitude suspeita.
ZH – O que é atitude suspeita?
Recruta – É difícil dizer, né. Hoje em dia todo mundo é meio parecido.
ZH – O senhor teve aula de abordagem?
Recruta – Nem de abordagem, nem de defesa pessoal. Só teóricas.
ZH – Vocês têm colete?
Recruta – Não. A gente pediu, mas eles não tinham para todos.
ZH – Não é perigoso fazer policiamento sem colete?
Recruta – Imagina! A gente não conhece a cidade, não sabe atirar direito, não teve aula de abordagem e sai sem colete. Comento com o meu colega: qualquer coisa, a gente corre!
ZH – Qual o principal temor de trabalhar nestas circunstâncias?
Recruta – Tenho medo de morrer, é claro, mas também tenho medo de matar um inocente.
ZH – Na hipótese de prender alguém, você sabe o que fazer?
Recruta – A orientação foi de prender e chamar o sargento.
ZH – Vocês têm celular ou rádio?
Recruta – Não.
ZH – Como chamam o sargento?
Recruta – Boa pergunta! Não prendemos ninguém ainda, mas se prender, vou ficar esperando o oficial.
ZH – O senhor não poderia levar o preso à delegacia?
Recruta – Nem sei onde tem delegacia aqui por perto.
ZH – Os salários estão sendo pagos?
Recruta – Não. Tenho filhos pequenos, que estão com a mulher, no Interior, e não sei o que fazer. Estou pensando em desistir.
O "Comandante" sacrifica sua própria tropa! Quanto tempo até um menino desses atirar contra um manifestante, como o próprio recruta admite que pode acontecer? Ou quanto tempo até ele ser morto, pela política insana de seu comando?
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