quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sociólogos coerentes não querem prêmio ao homem do "esqueçam o que escrevi".

Durante a última ditadura do País, diversas arbitrariedades foram cometidas contra os direitos civis. Estudantes sofreram duras restrições à suas ações, como o fim das organizações estudantis (as que sobraram ficaram sob "supervisão de amigos do regime", que rse reportavam aos censores), perseguições, expulsões sumárias dentre outras "carícias".
Estruturalmente os golpistas agiram de forma a diminuir a possibilidade de os alunos, entrarem em contato com leituras e idéias "subversivas". Substituíram a Sociologia e a Filosofia por disciplinas bitoladas, totalmente dirigidas à perpetuação dos ideais da caserna burguesa: As famigeradas Educação Moral e Cívica, OSPB e EPB, além da obrigatoriedade da prática do ensino religioso. As cadeiras de artes, foram reduzidas à "educação artística". A História, totalmente castrada, reduzida à um mero culto à heróis pátrios, expurgada de conteúdo, crítica e até mesmo, de lógica temporal.
Com vistas à correção desse crime contra o pensamento humano, por duas vezes tentou-se estabelecer a obrigatoriedade das disciplinas de filosofia e sociologia, ao ensino fundamental e médio (as universidades tem algumas cadeiras capengas de ambas). Nas duas tentativas (1997 e 2001), o Sociólogo Fernando Henrique Cardoso, vetou a iniciativa.
Agora pasmem: A Sociedade Brasileira de Sociologia quer agraciar seu algoz com o prêmio Florestan Fernandes, que homenageia sociólogos de destacada produção intelectual. A reação veio do Sindicato dos Sociólogos do Estado De São Paulo:

Sinsesp protesta contra Outorga de prêmio à FHC

O Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo (Sinsesp) vem à público manifestar seu mais profundo desagravo à premiação do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, pela Sociedade Brasileira de Sociologia, com a entrega do Prêmio “Florestan Fernandes”, durante a abertura do XIV Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado entre os dias 28 e 31 de julho na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O Prêmio Florestan Fernandes, instituído no XI Congresso Brasileiro de Sociologia, em 2003, tem o objetivo de homenagear sociólogos que, por seu empenho na produção do conhecimento e liderança institucional, são marcos de referência na história da disciplina no Brasil.
Um dos agraciados com a premiação, o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, relegou, em anos recentes, o ensino de Sociologia. Há, portanto, o sentimento de que a premiação reflete o desacordo da atual gestão da Sociedade Brasileira de Sociologia com o tempo histórico.
Ao longo da história da SBS, inúmeros intelectuais e sociólogos que contribuíram de forma expressiva para o progresso das Ciências Sociais no Brasil, já receberam o prêmio “Florestan Fernandes” como Manuel Correia de Andrade, Heraldo Pessoa Souto Maior, Octávio Ianni, Neuma Aguiar, José de Souza Martins, Juarez Rubens Brandão Lopes, Wilma de Mendonça Figueiredo, Francisco de Oliveira, Silke Weber, entre outros. Reconhecimento mais que merecido.
Em 8 de outubro de 2001, o sociólogo e presidente Fernando Henrique Cardoso vetou um a lei que incluía as disciplinas Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo das escolas de Ensino Médio no país, o que beneficiaria cerca de dez milhões de jovens. Em 1997, já havia sido apresentado e aprovado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL 3.178/97), que alterava a LDB incluindo Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias. Quando enviado à sanção presidencial, porém, o projeto foi vetado integralmente por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que agora foi homenageado pela SBS.
O Sinsesp, cumprindo uma exigência histórica, engajou-se na luta pela redemocratização e pela inclusão de Sociologia no currículo escolar desde sua fundação em 1982. Quando do veto em 2001, este foi considerado por intelectuais e lideres políticos, como bastante grave para a credibilidade da Sociologia e dos Sociólogos, perante a opinião publica. Nesse sentido, o Sinsesp considera a outorga do prêmio ao ex-presidente e sociólogo um ultraje à memória de Florestan Fernandes e a própria história da entidade científica (SBS), sucessora da Sociedade de Sociologia de São Paulo e que sempre foi nossa parceira nessa luta nacional.
Em principio, tal gesto parece representar uma expressão intolerável de reabilitação de um sociólogo que brindou a sociedade brasileira com o famoso “esqueçam o que escrevi”. Não se trata aqui de preconceito e de intolerância, mas de conformação com valores que modelam o espírito critico do mestre Florestan Fernandes. Torna-se bastante pertinente refletir que a disputa de ideias e espaços devem servir não a aceitação social e reabilitação da velha ordem neoliberal, mas ás transformações sociais alcançadas pela sociedade brasileira no atual momento, com o reconhecimento, inclusive, da Sociologia no Ensino Médio.
Entendemos que a comunidade científica e os sociólogos em particular, devem repudiar a posição e o gesto da Sociedade Brasileira de Sociologia. Nesse sentido, o Sinsesp encaminha esta nota à SBS em nome dos sociólogos paulistas e a outras sociedades científicas, mencionando a nossa manifestação de repúdio ao homem político insensível que renegou a Sociologia ao qualificar, na época, o projeto de Sociologia no Ensino Médio como "contrário ao interesse público”.

São Paulo, 5 de agosto de 2009.
Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho
Presidente do Sinsesp e em nome da Diretoria do Sinsesp

* Como sugestão ao conselho, na próxima façam uma homenagem, premiando, postumamente, os "presidentes" Médici, Geisel, Costa e Silva, Castelo Branco e Figueiredo. Manteriam a coerência demonstrada...

Um comentário:

Gui disse...

Viva o grande mentor e criador do paradigma dependentista! No qual nossa querida America Latina tinha que se conformar com sua posição inferior e subalterna ante o centro "vencedor" e poderosos. E chorar migalhas a eles. Haha. Abrindo as portas da nossa "democratica" nação ao neoliberalismo. Reativando a colônia tupiniquim. Saindo com seu bolso cheio no fim dos 8 anos, e deixando nosso país sem boa parte das estatais e afogado em dividas. Sem dúvida um dos maiores filhas da puta que ja existiu.