Temos duas classes de prisões, aquelas em que a polícia sobe os morros chutando portas, batendo e atirando, a imprensa mostra tudo, pouca gente acha "abusivo'. O Supremo Tribunal Federal (STF) raras vezes se manifesta. Da mesma forma acuam, expulsam, agridem e até matam trabalhadores que protestam, raramente o STF diz alguma coisa.
Também temos aquelas prisões, em que a polícia tem que implorar para entrar em mansões que mais parecem fortalezas, dar longas explicações sobre a operação, e finalmente algemam o magnata. A imprensa sempre dá um jeitinho de filmar, embora nota-se que não de forma tão aberta como a s ações nos morros, as vezes meio as escondidas, imagens feitas atras de postes, de carros, de árvores. Quando isso acontece, uma parte do STF "sobe nas tamancas".
Fala-se de abusos, que não há necessidade de algemas, que vivemos num estado policialesco, que não haviam motivos para essas prisões. Mas tudo assim, de forma "discreta", quando poderiam afirmar que prisões e algemas não podem ser usados por aqueles que tiveram o mérito de alcançar o patamar de milionários, que com muito suor e trabalho (dos outros), atingem hoje o "american dream", ou seja enriquecer, não importa como.
Cadeias, algemas, cães, bombas, gás e balas são formas de manter a choldra em seu lugar. Algemas e prisões não podem se voltar contra aqueles que se mantem onde estão fazendo uso delas.
O Governo Federal vem mudando essa realidade, com a Polícia Federal atuando para desmontar as mega-quadrilhas que exploram os cofres públicos, privatizando o estado aos poucos e enfiando-os em seus cofres (contas bancárias). Mas está esbarrando no esforço conservador do STF, que quer manter a todo o custo o "quadro pintado": polícia para os do andar de baixo, Cayman para os do andar de cima.
Abaixo o texto do sociólogo Juremir Machado da Silva, publicado na edição de hoje do jornal Correio do Povo de hoje, no qual, de forma irônica e debochada expõe muito bem nosso contexto "policialesco", e propõe uma bem humorada solução para a impunidade do "andar de cima.
ESTÉTICA DAS ALGEMAS
Juremir Machado da Silva
Como é lindo ver um figurão corrupto algemado! É a única punição que realmente conta. Afinal, ficam pouco tempo na cadeia. Sem contar que, embora as 'celas' da carceragem da PF não possam ser comparadas com quartos do Copacabana Palace, estão longe de lembrar o antigo Carandiru ou o Presídio Central de Porto Alegre. Não vi imagens de Naji Nahas e de Celso Pitta devidamente enfeitados com tão belos braceletes. É uma pena. Equivale a nunca conseguir uma figurinha difícil num álbum infantil. Sobrou o Daniel Dantas. As fotos que pude apreciar não exibem claramente o enfeite. Dantas é homem rico, discreto e por certo não gosta de ostentar correntes, relógios, anéis e algemas. Estas, ao menos, parecem cair-lhe muito bem, dando-lhe um ar realista.
O Brasil é o país dos paradoxos. FHC estabilizou a moeda, um feito extraordinário, mas também ficou marcado pela denúncia de compra de votos para aprovar a emenda que lhe permitiu concorrer à reeleição. Isso sem falar das privatizações que enriqueceram muita gente. O atual presidente soma, ao menos, três grandes realizações: manteve a política econômica de FHC, criou, a partir de outros mecanismos de ajuda social, o fantástico Bolsa-Família, política humanitária de país civilizado, concebeu o ProUni e botou a Polícia Federal para trabalhar. Em contrapartida, atolou-se no 'mensalão'. Ainda tem quem ache que o mensalão não existiu ou não desviou dinheiro público. A operação da PF que enjaulou Dantas, Najas e Pitta vem novamente mostrar o contrário. O STF liberou dados revelando que Dantas foi o principal canal de irrigação das contas de Marcos Valério. O famoso carequinha repassou tais recursos para deputados aliados do governo Lulla. A grana de Dantas, gestor da Brasil Telecom, vinha da lavagem de dinheiro público. Basta?
A defesa de Dantas ameaça entregar papéis contra o PT na base do 'vamos morrer todos abraçados'. Tomara que faça isso. Há quem veja nessas prisões temporárias com figurões algemados um excesso ou uma espetacularização das práticas policiais e judiciárias. Nada disso. É justo, ético e estético. Devia ter entrevista coletiva com os detidos algemados. Já pensaram em Najas, Dantas e Pitta falando horas em rede nacional com os bracinhos adornados por algemas prateadas? Eu sou a favor da humilhação dos tubarões que roubam o dinheiro público. Não se pode fazer isso antes de haver prova definitiva? O senso comum está certo: é o que se faz com a ralé quando a Polícia entra em barraco chutando a porta. Além disso, a prova definitiva nunca chega. Collor foi absolvido.
Sugiro uma alteração na lei. A prisão temporária devia incluir 15 minutos de exposição dos detidos com suas algemas a uma sessão de fotos e de filmagem pela mídia. Assim como fazem as modelos ou os artistas no lançamento de um filme. Com direito a pose e maquiagem. É preciso garantir, depois de uma vida de fama indevida, 15 minutos de execração pública. A massa quer ter o direito de rir, debochar, cuspir e vingar-se simbolicamente durante alguns instantes. Seria uma espécie de malhação de Judas virtual. Depois, não interessa. Podem até soltar os larápios. Afinal, é só uma questão de tempo mesmo. A Polícia também devia ser obrigada a entrar em mansão metendo o pé na porta. Sei, não cai. Os três presos da Operação Satiagraha tinham de aparecer numa foto colorida com uma legenda singela e definitiva: os najas.
juremir@correiodopovo.com.br
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