“Meu nome é Linda Pino. Eu vim aqui hoje, para fazer uma confissão pública. Na primavera de 1987, como parte de meu trabalho, cancelei uma operação necessária para salvar a vida de um homem, e isso causou sua morte.
Nenhuma pessoa do grupo me ajudou a fazer isso, porque de fato, o que fiz foi dizer a companhia: Tenho um milhão de dólares por isso.
Regi Cervantes era uma técnica media emergencista voluntária, e ainda esse meu ato em particular, assegurou a minha reputação como sendo uma “boa diretora médica” e possibilitou meu contínuo avanço no campo do cuidado da saúde.
Fui de ganhar apenas algumas centenas de dólares por semana como revisadora médica a uma posição ascendente e de ingressos como executiva.
Fui de ganhar apenas algumas centenas de dólares por semana como revisadora médica a uma posição ascendente e de ingressos como executiva.
Em meu trabalho só o que eu tinha de fazer usar minha experiência médica para o benefício financeiro da organização para a qual eu trabalhei.
E me foi falado repetidamente que eu não estava negando tratamento, simplesmente estava negando pagamentos.
E me foi falado repetidamente que eu não estava negando tratamento, simplesmente estava negando pagamentos.
Sei como o manejo de saúde mata as pessoas, assim estou aqui para falar para vocês do trabalho sujo do manejo de saúde e da grande quantidade de papéis que li e que comprometem isso.
Obrigada”
Abertura dos depoimentos de Linda Pino, ex-revisora médica da companhia de seguros de saúde “HUMANA”, no dia 30 de maio de 1996, no Congresso dos Estados Unidos da América.
Esse incrível depoimento foi extraído do filme "Sicko" de Michael Moore.
Alguém já viu nas telas das grandes emissoras de tv do Brasil algum tipo de notícia, na qual são mostradas as crueldades do Sistema Único de Saúde? Praticamente todos os dias temos algum tipo de reportagem chocante, mostrando os terríveis suplícios vividos por pessoas em busca de atendimento médico em nossos superlotados e desestruturados hospitais.
Em seguida vemos, nos comerciais, as maravilhas de ter um plano de seguro de saúde privado, das mais diversas operadoras que atuam no país.
Uma forma um pouco mais agressiva desse tipo de "informe" foi feito nos Estados Unidos nos anos 70, quando Richard Nixon and John Ehrlichman, resolveram implementar uma nova política de saúde naquele país, a completa entrega da saúde pública à iniciativa privada.
Os argumentos foram os mais diversos, mas o principal era o da incapacidade do sistema público (do país mais rico do mundo), em cuidar de seus compatriotas.
Tudo passou a ser tratado pela iniciativa privada, regido pelas sagradas leis do mercado, oferta e procura, e a lógica neoliberal, a potencialização dos lucros desses conglomerados. Aí é que surge a questão chave do filme: Se empresas privadas visam exclusivamente ao lucro, e no caso dos planos de saúde, o lucro vem pelo pagamento de mensalidades, e pode ser potencializado pela não prestação do serviço para o qual foram contratados, como fica a população que depende exclusivamente desses planos, e não tem um "SUS" a que recorrer?
A resposta é: Ela vai pra cova, de acordo com vários depoimentos expostos no filme de Michael Moore, como no trecho que transcrevi acima.
A sociedade estadunidense foi dividida em três classes, quanto á forma como é "atendida" pelo sistema privado de saúde: A primeira é aquela que não precisa se preocupar com nada,tem dinheiro ou poder suficiente para pagar por qualquer procedimento médico. A segunda é aquela parte iludida, que acredita estar segurada por uma empresa que "só quer o seu bem", e que só vai se dar conta do quanto foram enganadas quando precisarem de algum procedimento médico que vai ser rejeitado pelos "selecionadores" dos planos de saúde, levando os "segurados" a sofrimentos indescritíveis ou, não raro, a morte. Essa é a maior das "categorias".
A terceira é a que realmente está mais "ferrada". Trata-se dos 50.000.000 de cidadãos de "terceira classe", os que não possuem planos de saúde, e portanto, não podem ser atendidos em nenhuma instituição médica dos EUA, a não ser que paguem. E como em sua maioria são desempregados, ou empregados de meio turno, dificilmente conseguem pagar, e 18.000 deles morrem a cada ano por não ter plano privado de saúde.
No início do filme há cenas emblemáticas sobre essa terceira classe: Numa delas um marceneiro que perdeu dois dedos de uma mão, relata o seu drama. Na hora do acidente o primeiro pensamento que lhe saltou a mente foi: "O quanto isso vai me custar". Sua preocupação fazia sentido, pois para reimplantar os dois dedos perdidos, o marceneiro teria que desembolsar cerca de oitenta e cinco mil dólares. Quantia que ele não guardava debaixo do colchão.
Mas felizmente lhe foi dada uma alternativa. Reimplantar apenas um dos dedos, o médio por USD 60.000.00 e o anular por módicos USD 18.000,00. Acabou reimplantando o anular por essa "pechincha".
No Brasil temos um sistema universal. qualquer pessoa, empregada ou não, tendo ou não tendo condições de pagar pode ser atendida, simplesmente apresentando um documento de identidade.
Vale a pena ver esse filme, como um testemunho atual de um povo que entregou seu bem mais precioso, suas vidas, a iniciativa privada e a lógica mercantil da acumulação de riquezas, do lucro potencializado a qualquer custo e da imoralidade do capitalismo.
Um povo que precisa, agora, deslocar-se a outros países para garantir sua sobrevivência.
No caso da saúde pública, o império fez de seu povo sua maior vítima.
Michael Moore é ativista político, escritor, roteirista e diretor de vários documentários que criticam o "American Way of Life", seus métodos e a ideologia assassina e suicida de seus artífices. Escreveu e dirigiu O famos o "Firenheit 11/9", "Tiros em Columbine", Roger and Me" e "Corporations".
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